terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Elixir Ímã Você

Miro 4.02.2020

Nem ouso mais
tocar naquela saudade
que num cantinho do peito
dorme feito criança 
com tranças de agonia e paz.              

E numa rede sem porquês
trama de falsos sossegos
embalo tuas lembranças
que podem eclodir
o elixir ímã Você.

Só nos sonhos fugidios
Agitam-se meus desejos
que se degradam nas réstias
que apagam tua nua imagem
passagem para novos vazios. 

Assim o dia claro dá conta
de esconder a tênue agonia
de tu estar longe e perto
como invisível cortina
que a rotina desmonta.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Senha

Senha

Miro 7.1.2019

Quando eu te quero toda
e te grito venha
tu me pede a senha
e depois me poda…

Quando eu te quero nua
e quase viro bicho
tu joga no lixo
minha carne crua!

Algo meu te incomoda?
Então me larga
que a vida roda.

Ainda assim me espicho
e o tempo alarga
para os teus caprichos.

sábado, 1 de dezembro de 2018

Mato de Nascente - Rio Belém


Miro 1.12.2018


Com os pés descalços 
alço um vôo sem asas 
busco no mato nascente
teu riacho sem encalços.

Enrolo-me na relva rasa 
preso à cipós pingentes
que do chão se espalham
e atrapalham meus pés.

Fecho os olhos sem crer
para decolar interna fé
ouvindo cantos e folhas.

Indígenas vozes me calam
e me falam de escolhas
que não preciso fazer. 

Limalhas Frias

Limalhas Frias

Miro 30.11.2018

Este fino aperto em meu peito,
contém e altera minha respiração 
me deixa com os ombros à frente,
como pena de quem é inocente!

Fico assim restrito e sem ilusão,
como um anjo pego em indecência
revoltado e em silencioso sem jeito
por tua mordaça conveniência!

Lesas-me num amigo gozo escasso
quando rasga um véu que não cai
e me calça os pés com ausente chão. 

Não sei o que pensar nem o que faço
Sinto-me um ímã usado que só atrai…
limalhas frias do teu ferro coração. 

Pequenos Vínculos Partidos

Pequenos Vínculos Partidos 

Miro 1/12/2018

Tão pequenos como fio de teia
ou um trapo de seda esgaçado
réstia de poeira no chão quarto
ou agulha fina destruindo a veia.

Um cabelo só no lençol amassado
cordão umbilical de abortado parto
um risco de grafite solto no papel
último gole na garrafa solidão.

Lágrima secando no lenço seco 
um rastro de avião sumindo no céu
chave partida de tranca sem portão.

Passo sem rumo diante de um beco
retrato amarelecido na gaveta vida
uma poesia para sempre... esquecida!

Silêncios

Silêncios

Miro 1.12.2018

Existe um silêncio
que não é de tristeza
nem de mental reflexão. 

Se pudesses ouví-lo
ficarias surda.
Se pudesses tocá-lo
serias ferida.

Existe o silêncio
que pela falta de lanheza
açaima a indignação.

Não há como quebrá-lo
sem dor que aturda
Não há como contê-lo
sem romper a vida.

Existe ainda o silêncio
afilhado da fraqueza
e da interna confusão.

Não há como tirá-lo
das idéias absurdas
Pois é lã sem novelo
em tramas bem urdidas. 

É o pior dos silêncios
pois filho da incerteza
vinga tua falta de atenção!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Troco


Miro 19.08.2018

Troco que medras
em rasgos e pedaços
em grãos e em pedras
sem estofo
em cegos laços 
de sujeira e mofo
que nas toalhas rotas
deixa nacos de comidas
mancha em gotas
o podre de nossas mordidas… 
  
E na taça suja
quase sem vinho
vem a tona
um brinco quebrado
 que jaz sozinho
sem dona…

Em nossa cama suja
um sempre acordado
incapaz
qual coruja 
de um sono com zelo  
que num fio de cabelo
sustenta
armistício sem paz
que o trincado aumenta
do nosso vidro partido
que na garganta carpideira
corta o nó apodrecido
pelo entalado não
quase congelado 
pelo frio geladeira
de meu coração
sem gás