quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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Miro 29.09.2010


No caos de teu fuzuê
minhas poesias descansam,
ora como costas de rabiscos,
ora como marcador de agenda,
de vez em quando lês os escritos
e sem sentir amante ou amiga
desnuda-me por segundos
ante tua consciência,
depois me esquece,
me perde,
na bagunça que tece
ao redor da existência,
fico nas traças do teu mundo
como alguma borracha antiga
que só apaga o que não foi dito,
que não serve nem como lenda,
apenas um objeto entre ciscos
a espera que dedos atrevam
levar-me perto de Você.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Filme Noir

Miro 28.09.2010

Uma psicodélica armadilha
numa psico-dança circular
as voltas de uma fogueira
de chamas verde-azuladas
quentes como as tragadas
de narguilés em gafieiras
onde amplas fumaças no ar
dão sinais de vida na ilha.

Neurônios além da escotilha
voam fáceis sem sair do lugar
fugindo da própria coleira
ligam fitas desmagnetizadas
onde a memória foi apagada
por ímãs de cósmica poeira
que viajam por naves sem mar
tatuadas vezes em tua virilha.

Perto em quiralidade trilha
tua imagem folga no olhar
sobrepõe com luzes ligeiras
minhas sombras estagnadas
que zanzam à falta de estrada
atrás de tuas pistas solteiras
em clínica de um filme noir
crua dor por onde me encilhas.

Demônios em psico-matilhas
correm ao teu redor sem parar
visitam teu ventre em fieira
em contraste ao gelado nada
de minha extensa madrugada
que em fugaz via aduaneira
camufla o prata de teu luar
como um íncubo te dando pilha!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

250 mililitros de Coca-cola

Miro 22.08.2010


250 mililitros
da pequena
coca-cola
renovam
o tempo
e as vinte
e uma gramas
do peso de minh'alma
no prazer da memória
uma garrafinha de vidro
de onde um bom gênio saia
com cheiro de doce canela
escuro como água de rio
explodindo nas papilas
a sede em micro bolhas
o vermelho do seu rótulo
o branco de suas letras
um vai e vem em ondas
que já estiveram em litros
em máquinas, pet família
em latas de puro alumínio
mas a dose de minha sede
que eu nunca quiz matar
era ter a boca seca do jogo
no gelado da garrafinha
descontrolada na mão
era o troféu possível
pela minha vitória infantil:
festejo simples do meu coração!


Circulus Imperfectus


Miro 21.09.2010

Inexperiência

Olho para minha inexperiência
experimento enxergar o meu vivido
o modo estranho como tenho agido
com alguma ou total inconsciência.

Reflexão

Coloco-me sob intensa reflexão
busco um olhar com outros olhos
em qualquer feedback que recolho
a espreita de alguma inspiração.

Análise

Com um olhar um pouco mais preciso
deito detalhes no bojo do meu cálice
busco interações em minha análise
sem deixar o todo ou ser conciso.

Plano de Ação

Deixo surgir do nada alguma criação
que estruture e nutra o meu fazer
algo sustentado pelo meu querer
um desenhado plano antes da ação.

Ação

Rompendo riscos, fossos e cruzes
ajo no caminho da eleita intenção
com energia, mente em foco e coração
com gosto gasto minhas forças e luzes.

Experiência

Retomo a ciência do caminho escrito
que me levaram ao degrau mais avançado
e sem arrogância pelo novo conquistado
revejo o que flui e o que é atrito.
Refinamento

E quando o agir em mim se consolida
em dominado tom de fiel performance
dedico-me a ele feito um romance
refinando estilo em minha vida...

Não consciência
.
Mas se cego frente ao que domino
acreditando dar conta de tudo
albergo dores neste meu descuido
quando pelo próprio dom eu me fascino.


Inexperiência

Olho para minha inexperiência
experimento enxergar o meu vivido
o modo estranho como tenho agido
com alguma ou total inconsciência...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Posso?

Miro 19.09.2010

Posso te dominar
ou te estruturar!
Posso te sufocar
ou te nutrir!
Posso te desprezar
ou te considerar!
Posso contigo
resistir!
Posso discordar,
adaptar
ser imaturo,
ou te seduzir!
Posso te manipular,
ser teu maior engano,
forçar a barra
e simplesmente exigir!
Posso ser espontâneo,
cooperar,
íntimo te amar
e te fazer sorrir!
Posso tudo?
Quase nada,
na real eu só posso:
o que Você decidir!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lascas

acordo sem cores
fel de chocolate
palhaço da dor
musas ao vento
indecente viagem
ouro de manequim
nódoa de virgem
asfalto indolor
golpe de abate
sêmem de flores
vago sentimento
lascas de um fim

Miro 14.09.2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Espantalho

Miro 12.09.2010

tenho um amor que é tão terno
porto seguro onde eu encalho
naus, dragas, prontos amanhãs
nele me fixo sem mover a razão

tenho uma paixão quase inverno
mar aberto onde eu me atrapalho
náufrago Adão em gozo de maçãs
que me afoga frio nesta fixação

tenho um amor que tem tom eterno
relógio parado onde eu entalho
meu prontuário em contínuo divã
onde trato neuroses e depressão

tenho uma paixão onde externo
alegria, desejo, tesão em talho
aberto, hemofílica sangria sã
que consome qualquer compensação

tenho um amor onde ainda iberno
como carta de um velho baralho
esquecido entre cotocos de lãs
em uma quase constante sensação

tenho uma paixão que eu interno
em dores, dúvidas, tudo que valho
e que me entreva em febre tersã
morto vivo em ciente alienação

o amor, a paixão e a dor em terno
como trinca nas mãos de espantalho
torto em sua missão batizada vã
de afastar as asas de qualquer emoção

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Simetrias

Miro 9.9.2010

Procuro tuas íntimas simetrias
matemáticas fontes de prazer
onde o belo entra em sintonia
e me faz dentro de ti crescer...

Traço a bissetriz que angulo
no teu ventre em movimento
teus rítmicos gestos engulo
com a língua em passo lento!

Em teus triângulos e vértices
calculo a libido escondida
algo lúdico que pré atice
tua loucura além da medida!

Cartesiano em minha viagem
pelos teus pelos, pólos e zeros
risco o gozo desde tua origem
até o infinito que de ti libero!

Sem pontos, prazos e planos
meu compasso por ti circula
entre curvas sob teus panos
pecados de lascívia e gula!

Axioma de signos e beijos
Postulado de impura paixão
Teorema de amor e desejo
Corolário tratado em tesão.

E num paralelo sem retas
Tu côncava e eu convexo
desenho de forma indiscreta
a geometria do nosso sexo.

Incesto

Miro 09.09.2010

Desordenado ante teu incesto
onde cruzas com destino primo
destilo o tóxico de teus gestos
ante a lança que me fere e caça
crio rebeldias frágeis no teu cio
em cúpulas de solitário arrimo
um inseto preso entre vidraças
natimorto num sanitário estio
no caótico de teu País sem leis
apego-me ao gelo de teus ares
decanto na cadência dos metrôs
destituindo cargos, mulas e reis
entornado ao Sul de teus mares
chafurdado à lama dos instintos
bebo o sal de teu carteado retrô
em mananciais de nuances nuas
entre redemoinhos, putas e sacis
como mágoas de um Ego extinto
limpo-me nas gotas quase cruas
que brotam sãs de teu olhar feliz...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Bolhas de Sabão

Miro 05.09.2010


As vezes sinto no ar
minha intensa paixão,
que como bolhas de sabão,
se tornam insustentáveis
dentro do coração,
e embora meus pensamentos
acabem em física fixação:
desejando,
sonhando,
escrevendo,
gritando-te em vão,
elas se movimentam
por onde respiro
e brincam com a imaginação,
que te faz:
sorrindo,
perto,
carinhosa,
amada,
úmida,
cheia de tesão,
fico nesta brincadeira por horas
em devaneios primitivos,
em fantasias de encontros,
desenhando roteiros
sem qualquer noção,
são breves imagens tuas
que duram o tempo inexato
de uma explosão:
e se reduzem a espuma
ao primeiro toque dos dedos
de minhas mãos,
criando uma camada branca,
uma gosma escorregadia
de lembranças tuas
espalhadas caóticas
no ladrilho do chão
e que me faz cair
na realidade crua
de minha emoção
e aí surdo,
calado,
paralisado
e cego,
fico quieto
e insensível
na mais nua
e gelada
solidão!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Paixão & Fixação

Miro 31.08.2010

paixão é uma fixação
ausência de possibilidade
um impulso quase animal
do resto pura exclusão
uma fictícia unidade
ante o ser mágico e objetal

é um jogo de auto redução
que consome a mente em delírio
uma projetada fantasia
imersa na própria maldição
utópica fonte de martírio
que conserva a dor em manias

é um raio em constrição
no espaço quente da dor
uma energia não consumida
que é quase sem noção
desculpa insana do amor
que congela a alma em vida