sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Prismas Etéreos

Miro 22.08.2010

As rugas de dor no meu senho
são brindes a tua falsa miopia
que explora o que não tenho
com talheres da mais pura agonia.

Aos signos da minha idade
marcados em minha testa
um vestígio de seriedade
que tua transferência empresta.

Meu tom de voz soberano
além de teu ritmo interno
descobre trapos em planos
e cria prantos no teu inferno.

Tuas projeções são estilhaços
que minha face oculta detecta
são quase minhas no teu espaço
mas meu coração delas não se infecta.

As repulsas por ti cultivadas
com lágrimas de autopiedade
em minhas cicatrizes usadas
são pantalhas cruas de tuas verdades.

Sou sério como um palhaço
por de traz da cortina do palco
além das máscaras que faço
há dores de teus serenos escalpos.

Por mais que lave meus olhos
no teu olhar quase em cacos
são prismas etéreos que colho
de teus raros complexos intactos...

Santiago del Estero

Miro 22. 08.2010

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

Ela veio antes da ponte
cheia de águas quentes
de um denso verão
num deserto esquisito
um abismo solidário
um dia antes da volta...

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

Um carnaval de improviso
não foi além de um susto
de meu pé revirando
torcendo no meio-fio
caindo no boeiro sujo
em frente a bodega cheia...

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

O meu grito de dor no ar
abafando falsos tamborins
nos braços de catorze
até o único hospital
onde não havia nada
nada além de bandagens...

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

Conter a dor com remédios
voltar ao Hostal dos Abuelos
na quietude da escura piscina
de vapores térmicos naturais
onde do nada se fez presente
louca de tantos desejos...

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

Com afetuosos cuidados
sugou-me o Espírito Santo
mostrou-me o calor das coxas
e num gozo improvisado
mudou minha vida prá sempre
liberando-me do garfo imposto!

Santiago del Estero
Latina em sua fé
no meio do desespero
o diabo na sola do pé...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Johari

Miro 22 de agosto de 2010.




Narcísico impulso
que me lança
contra todos
os espelhos
onde cego
escondo
manchas
senis...
Poço de águas
quase cristalinas
onde me vejo
ora perto
ora longe
sem defeitos
sintético
em luz
um ponto
brilhante
de falso
matiz.
Narcísico complexo
que vê nos outros
impossíveis
projeções
em riscos
de giz.
E faz da própria
insanidade
uma força
motriz!
Fantasias abduzidas
por falsas pantalhas
em transgressões
viz:
ora públicas
ora secretas
desconhecidas
as vezes cegas
grotescas
outras sutis.
São meus narcísicos vôos
imprecisos tropeços
da beleza
juiz,
que lá do fundo do poço
evanescente em reflexos
ao infinito se cola
entre nuvens
em gris!

Imperfeitos

Miro 22.08.2010

Não nascemos para sermos belos
e por belos erros nascemos!
Um velocista mais preparado,
entre outros milhões de indolentes
que viraram proteína ao invés de gente.

Não nascemos para sermos sapos
e não há lugar para muitos príncipes!
Só um espaço de vida entre bilhões
de seres que se amam e se matam
e se deitam por terra como mórbidos ímãs.

Não nascemos um para o outro
como clara e gema, ou meias maçãs!
Jamais seremos qualquer todo,
o coração é por si incompleto
e os olhos revelam os desejos secretos.

Não nascemos para sermos idéias
que vencem o tempo nos livros.
Somos letras dispostas ao vento,
átonas sílabas em desbotado vermelho
como imagens sujas em cacos de espelhos.

Não nascemos para sermos estrelas,
pois muitos brilham com o pó dos outros.
Somos um universo em decomposição,
soltos entre o arbítrio e a sorte:
matéria frágil um ponto antes da morte!

Meu amor, agora tem olhos de ver...

Miro 25 de agosto de 2010

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de olhar o fundo do mar,
Olhos de se esperar no cais!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos que brilham mesmo sem luar,
Olhos de me encontrar em paz!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de se embalar em berços,
Olhos de se ninar em blues!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de se tratar com versos,
Olhos de se mergulhar em luz!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de me atrair à teia,
Olhos de me querer do lado!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de me cantar sereia,
Olhos de olhar apaixonado!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos de se queixar silente,
Olhos de me chamar em dor!

Meu amor, agora tem olhos de ver...
Olhos que me dão continente,
Olhos com um olhar de amor!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

321 a 370

370 Quero ouvir teus murmúrios, mesmo que inaudíveis, quero ler teus sinais, mesmo que espúrios, quero te aprender em toques... imperceptíveis!

369 Entre o poder da coerção e o poder do amor, há o desepero de não ter poder nenhum e ficar inerte como um vaso quebrado e sem flor.

368 A cada dia, tornam-se mais vazios meus espaços: noites de insônia, silêncios quase infindáveis, só quebrados pelo coração em descompasso...

367 Marco meu tempo como quem conta pena, anos, meses, dias para a libertação de algo que sei estará sempre preso dentro mim: meu amor por Você!

366 Será que vale viver o que não disse, por medo de receber um não, ser interpretado errado, mal amado e internamente viver só de frustração?

365 Perdi meu celular, não quero um GPS no bolso, ser rastreado como animal, no máximo serei encontrado no cash do Google ou num boteco casual.

364 Em cima de todos os Paranás, para além onde alcança o chão, a dança de nuvens brancas e de letras no caderno: a mesma filosófica... pixação!

363 Nanopoeisa: Fugir pra quê? Para longe? Não existe onde... sem Você!

362 Ante a lança que me fere e caça, crio rebeldias no teu cio, cúpula de solitário arrimo, um inseto preso entre vidraças http://migre.me/1dG6T

361 Procuro tuas íntimas simetrias, matemáticas fontes de prazer, onde o belo entra em sintonia e me faz dentro de ti crescer...

360 Como fazer desenhos com palavras, criar esboço de minha emoção, as vezes realçando detalhes outras generalizando na mais completa abstração.

359 Voce que é boa em não se lembrar, ensina-me a te esquecer...

358 Não há linha aberta entre Você e eu, apenas uma vontade laser que rompe a noite e conecta teu espaço ao verso incoerente de algum poema meu!

357 Diante do espaço branco da saudades existe o nada e um millhão de novas possibilidades!

356 Deixar teu pescoço feliz sob meu nariz. Depois em concha, sentir teu calor instintivo e empírico, que nos leva vivos por caminhos oníricos.

355 O zero é uma abstração arábica, que meu coração interpreta como uma grande saudade levemente estrábica.

354 Entre livros e filmes antigos, ações poéticas e filosofia em liquidação, passo o tempo querendo ter na sala amigos com a mesma transpiração.

353 Fujo de tudo com a mochila cheia de tristeza e pó, um único doce de mel coberto de chocolate me fez a saliva doce e a garganta em nó...

352 Perdida em alguma praia, vendo estrelas, planetas, galáxias, meu amor se apega à luzes do passado e que seu altista universo lhe dá.

351 De algum lugar do hemisfério Sul vem o frio que deixa a sensação de que o vinho e a lenha não foram suficientes para aquecer nossas saudades

350 Sinto no ar a paixão: são bolhas de sabão que te criam em imagens finas, coloridas, insustentáveis que explodem e te esparramam pelo chão...


349 Não fique perto, nem longe, não preciso de ajuda, nem de descaso, fera ferida em meu território, sangro em cima de meus limites profanados.

348 Fica um amargo na boca, um fel, um veneno que corroe a cicatriz das amigdalas ausentes e que entalado no pescoço vira o osso de quase sempre

347 Hora de rasgar a cara que de tão contraída em rugas, senhos e mordidas, se fez máscara em cerco constrangido de qualquer intenção de escolha

346 Se pudesse gRitaR a Raiva que estou sentindo, ocupaRia todos os 140 caracteRes do twitteR com os eRRes maíúsculos que compõe meus eRRos...

345Minha burrice crônica é um corte aberto por onde infecto com medos variados um resto de coragem que viaja insana em meu coagulado sangue.

344Não existe dor maior do que aquela que é inesperada, aquela que o orgulho não permitiu enxergar, mesmo esfregando os olhos secos e atentos.

343 Cego tateio balançando minha bengala branca na esperança de quebrar a cara de alguém que não vejo e odeio pois está escondido dentro de mim.

342 Vítima regurgito raiva pelas narinas bufantes, torno-me um algoz e arrebento meus desafetos com frases ignorantes jogadas em digital vento.

341 Azedo o dia em desilusões, chamo minhas penas e pedras, não há como seguir descalço nesta imensidão de cacos com que pavimento meu caminho.

340 Despeço-me lentamente de Você, um sorriso roubado, um toque no seu braço, um olhar em teus olhos e lá se vai nosso tempo de ralos afagos...

339 As vezes fico perdido, no limbo de tua vontade, um ser por Você esquecido, no espaço atordoado, que se machuca de amor e saudade.

338 Quero um ícone que acesse imediatamente teu tesão, um atalho para tuas íntimas abas, um hot line qualquer que me leve a raiz de tua paixão.

337 Eleger-te em elixir! Fluir no fluxo de teu paradoxo! Em plena sexta-feira 13 de agosto! Exposto à doze badaladas de teu feitiço heterodoxo.

336 Na coincidência do oposto, na conjunção dos distantes, onde o cíclico e o linear se combinam, encontro o tempo sem luz de teu olhar errante!

336 Eterna e atemporal terra em que repartes teus polos, ora em risada de Irene, ora em lágrimas de viúva, nela eu piso em uvas e decolo solene!

335 Carpen diem com Kairós! O momento oportuno em nós! Não precisamos dos ciclos do zodíaco, que sejam uroboros nos poros, quase ninfomaníacos!

334 Meu tempo tem três senhores: o passado, o futuro e o espaço. Mas quem manda nele mesmo é o presente! Um agora contigo é todo tempo que caço!

333 Carinho é uma espécie de ar que só o coração sabe respirar...

332 Ante tua deixa: a minha salta. Ante teu charco: a minha queixa. Ante tua brecha: a minha falta. Ante teu arco: a minha flecha.

331 A lenha da lareira crepitava vermelhos em suaves tons! Enquanto teus lábios alugados traziam aos meus, um gosto inexato de baratos batons...

330 Era como subir a montanha no frio, ar raro e seco maltratando o peito vazio, que cansado de tanto arfar sem amor, simplesmente sucumbiu.

329 Já estava com as mãos no alto das cochas grossas, quando o apito o acordou. Pensou em xingar o guarda, ao invés disso virou de lado e gozou!

328 Virou-se para o lado e me disse plena de calma: amo Você igual a todos do nosso trabalho. Depois saiu rebolando como um espantalho sem alma.

327 Nada era tão excitante quanto o piersing dos lábios dela em minhas orelhas cobertas de frio: o tesão descia a espinha nas asas dos arrepios!

326 Vencida a meia-calça trabalhada em flores negras de crochê, as mãos fortes pode tocar firme a umidade escondida por tantos uivos sem clichê!

325 O luto da despedida, o choro, a falta de afeto, como esquecer a amada? Esquecer a partida, o desaforo, mudar o trajeto que vai dar em nada!

324 Mastigava os dentes enquanto as cartas do pôquer eram atiradas sobre o verde pano, colocou todas as fichas que tinha e ganhou só por engano.

323 Não era hora nem de sorrir, o silêncio dizia algo profundo e verdadeiro, mesmo assim o riso saiu solto e alto como um palhaço sem picadeiro!

322 Roubavas sonhos alheios deixando no lugar tuas projeções e fantasias, depois acordavas fria e negava a todos o calor de teus lábios e seios.

321 Não se via mais nada além: só o escuro furo por onde a brisa do mar nascia solta e de volta trazia um laço de sargaço que só tua ilha tem...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Falcatrua Lacrada

Miro 05 de agosto de 2010.

Aquele olhar azul
era a mais completa
falcatrua:
cílios implantados,
sombra em
degradê!

Uma lágrima
de irritação
deixou escapar
o castanho
sob a lente
de intenso azul!

Captei no fio
daquele marrom
alguma tênue
vontade,
um desejo
em silêncio...

Ser como era?
Menina simples
de pobres encantos,
ingênua,
de tímidas
intenções?

Ao sentir
que eu sabia
empinou silicones,
ajeitou disfarces
e partiu
nos saltos...

Nunca mais a a vi!
Só num cartaz
de uma revista
com tarjas,
aos meus olhos
lacrada...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Dia Cinza

Miro 4 de agosto de 2010

Dia cinza
bom de deprê!
De ficar
protegido
entre mantas
e chás.

Dia cinza
de lãs e crochês!
Dedos duros
encolhidos
em curtos
pavios.

Dia cinza
do frio à mercê,
nariz ilhado
em lenços
e a garganta
em nós...

Dia cinza
Teus olhos cadê?
Gelo nas veias
de brilhos
minguantes
sem ar.

Dia cinza
velho clichê:
sob meu edredom
um cio solitário
é neblina
em Você!