sexta-feira, 30 de julho de 2010

Rio Tejo

Miro 30.07.2010

Sou só vontade
uma Lisboa indigente,
neste incesto:
és minha carne
em tempêro
indigesto.

Marcho à deriva
entre colapsos
do teu Tejo,
lázaros prantos
ressucitam
meu desejo.

Eu janto juncos
junto as margens
do teu rio,
em insana fome
Belém afronta
o teu cio.

Vou de carona
cara quebrada
em tuas mãos,
enrigecido
por mosaicos:
sim's e não's!

Vórtices de luto,
perdas inóspitas
unção sem graça,
no fundo roxo
dos meus olhos
em tua taça.

Graças ingratas,
fraca indulgência
Toledo cão:
teus cristalinos
cristalizam
solidão!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Só quero saber se...

Miro 08.07.2010

Só quero saber
se há em ti alguma vontade
se secretos desejos acontecem
se pensas em mim como teu homem
mesmo que seja só por instantes
num espaço de louca projeção
uma possibilidade que causa riso
que te deixa leve por segundos
sentindo-me nos vão dos dedos
em paralelos destinos
viajando em meus carinhos
no oposto de nossos caminhos?

Só quero saber
Se teu beijo combina
se tua saliva na minha rima
se teu arrepio acontece
com o toque de minha língua
em tua primeira tatuagem
orvalhando tuas partes íntimas
em lentos movimentos rítmicos
despertando com meus súcubus
o teu ventre em força motriz
que agitado sem sair do lugar
afoga-me sem entrar em teu mar!

Só quero saber
se nós dois temos química
se damos certos na cama
se tua pele trama na minha
com cheiros complementares
se teu gozo acontece no meu
se teu ciclo tem o meu ritmo
se acaso ainda pode dar sexo
e em alguma forma de caso
mergulharmos em nossos suores
compondo em lençóis amantes
nenhum depois com nem um antes...

Unhas e Cutículas

Miro 09 de julho de 2010

Roo minhas unhas
caço alguns pedaços
de minhas cutículas
em sintonia com Você.

Com meus dentes
caninos mordo-me
nas pontas dos dedos
em suicídio blasé.

Busco neste rapport
uma pequena forma
de ficar no ritmo
do teu louco coração.

Empática fantasia
para mim um mundo
no meio do quase nada
de tua altista percepção.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Fel e Simplicidade

Miro 02.07.2010

Minha loucura se expressa
na medida em que eu coloco
a felicidade em mãos alheias:
a frustração sempre acontece
e o que posso fazer com ela?
transformá-la em crua tristeza,
em raiva por ter me enganado,
confiado em quem não devia,
culpar-me por indevida escolha
sentir-me pequeno em derrota
ouvir-me em juri impiedoso
sentir-me separado frente ao não
apreciar o fel da depressão
isolar-me do mundo e trancar
a porta fechada da alienação?

Melhor que estes falsos tropeços
é voltar ao começo que é tudo,
buscar a ordem que é implícita,
o imponderável encontro maior
com minha própria identidade!
não mais separada dos outros!
não mais um narcísico canto!
não mais um egóico destino!
não mais vaidosas conquistas!
não mais excêntricas rinhas!
um caminho em céu aberto
pronto para novas vontades
servo de toda sincronicidade
tornando visível a riqueza
de viver em simplicidade!

PS. Homenagem ao Dunga, um anão que nunca será o Feliz, pois prefere ser Zangado!