terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Espinhos & Sementes

Miro 15.12.2016

O quanto lamento ainda te amar?
Quase nada, pois nada tive de Você
e neste amor sem tempo ou porquê
não cabe perdão, nem arrependimento.

Nem sei se é um forte sentimento
sei que dura uma eternidade vazia
e produz uma puta saudade vadia
que machuca sem Você me tocar!

Mesmo assim cultivo a esperança
de vê-la em quentes carinhos
sentindo o mesmo que sinto por ti!

Mas tudo morre sem ser criança 
quando escolhes os espinhos... 
das sementes que não te ofereci!

Silêncio Consuetudinário

Miro 10.01.2017

Como viver momentos 
extraordinariamente normais...
sem que ninguém saiba
de minha profunda irritação
com tanto feijão com arroz? 

Como tratá-los como devem 
se não causam nenhum impacto 
em minha memória emocional 
e estarão esquecidos logo logo 
sem nenhum depois?

As vezes os conto 
como se fossem diferentes
e deles faço de conta que formam 
um rosário de contas iguais, 
onde entôo a mesma prece 
em silêncio consuetudinário…

Outras os deixo tomar doma
do meu grito mais animal 
e os solto num rugido surdo 
na floresta de concreto armado, 
só para sentir o eco 
de outros gritos iguais 
que cantam a solidão 
do trivial ordinário…

O que faço com eles, 
se eles aumentam minha coleção 
de incipientes escolhas 
que não produzem nada... 
nada além do nada?

Talvez num dia destes qualquer 
assumo a coragem 
de tratá-los com tal desprezo, 
antipatia e desrespeito, 
e numa convencional poesia…  
os grife com um tom diferente 
da normalidade acostumada!