sábado, 15 de outubro de 2016

Com quem aprendi...

Miro 15 de outubro de 2016

Com quem aprendi:
a andar descalço sem machucar os pés,
a acreditar no além sem os rigores da fé,
a acertar o passo da dança depois do tropeço?

Com quem aprendi:
a controlar a sede quando a água era escassa,
a segurar o gozo quando o tesão tinha graça,
que a ajuda justa é por quem não tenho apreço?

Com quem aprendi:
a liberar a lágrima do choro mais contido,
a segurar o riso quando ele era indevido,
a ficar calado quando a ordem interna era gritar?

Com quem aprendi:
a voltar atrás mesmo seguindo em frente,
a se diluir no povo por ser um ser diferente,
em ser primeiro único antes de me multiplicar?

Com quem aprendi:
que a dor dos outros em mim pode virar uma arte?
o que perdi quando ganhei acirrada competição
que o perdão é algo além da palavra reparação!

Com quem aprendi:
a ver o todo além da aritmética das partes...
a brigar tenazmente por momentos de paz?
a valorizar o que faço... mesmo quando incapaz?

Com quem aprendi:
que meus amores eternos de vez em quando me odeiam,
que perfumes afrodisíacos nem sempre incendeiam,
que as tristezas são raízes do fruto felicidade?

Com quem aprendi:
que meu velho medo me fêz infante corajoso,
que a coragem pode ladear o ser cuidadoso,
que minha coerência é feita de ambiguidades!

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Olhar de Náufrago

Miro 3 de outubro de 2016
(115 anos do nascimento de meu poeta e avô Quintiliano Pedroso)

Acordo com o olhar de náufrago
que no horizonte cria esperança 
e agasalha na pele o seco do sal
tendo a solidão como escudeiro!

Com um gosto de inexistência
consumo o tempo com o nada
enquanto nadam ao meu redor
os vazios de um oceano inteiro.

Só as estrelas me consolam… 
elas trazem algum brilho vadio
que mantém o doce no olhar!

Arrependo-me do desejo de mar
inundado de todo seu imenso
que sói me corroer... sem me levar!