segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Expirais...

Miro 25.02.2012

Fim de ciclos
obtuário criado
com as vossas divinas
iniciais...

lona arriada de circo
marcas de serragem
em terras sujas
vicinais...

confetes no chão
máscaras rasgadas
no último dos
carnavais...

pedaços de bolo
no tapete da sala
champanhe em cacos
de cristais...

nos olhos... areias
desejo e incômodo
em ambíguos
duais...

pausa silenciosa
repassados futuros  
proscritos escritos...
iguais?

talvez mais doidos
e mais coloridos
com seus invisíveis
cios e ais...

quem sabe menos felizes
com ritos e riscos
ou outros carpados
imortais...

pois assim é a vida
um círculo de ciclos
onde nada o sempre
e o todo jamais...

a não ser que juntos
eles se agrupem
no infinito ateu
das espirais...

onde eu trans-piro
meu laico conspira
e Vós...
expirais!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Solidão dos deuses

Miro 18.02.2012

A manhã desprevinida
pega-me em
solidão dos deuses

sem humanosn pecados
para errar

sem direitos básicos
para enlouquecer

a razão purificada se anula
no comando
de todos os controles

a lógica se faz
cúbica e exata
como um maktub

o destino traçado
com régua e compasso
não requer nada

sem sentimentos
sem intuição
sem intenção

caminho sem pernas
vôo sem asas

nado na escuridão
cego de luz

paralelo e ausente
de qualquer
humanidade

pois hoje estou
antes de qualquer princípio

e ao mesmo tempo
além de qualquer fim

único como os não criados
dissolvido na
solidão dos deuses....

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Tempêros da Paixão

Miro 13.02.2012

Uma paixão crocante
como torresmo da hora
um barulho entre dentes
chamando toda atenção...

Uma paixão azeda
como limão mal cortado
lágrima no canto do olhar
yougurte em indigestão...

Uma paixão salgada
como no mar afogando
boca suja de bacalhau
e pele suada de tesão...

Uma paixão adocicada
como mel na pata do urso
bala grudada no tapete
lingua com açúcar torrão...

Uma paixão picante
como urtiga no corpo
espinhos dentro do peito
coceira nos dedos das mãos...

Uma paixão molhada
como chuva de verão
baba de cachorro grande
lagoa em evaporação...

Uma paixão amarga
como grão de café torrado
veneno dos outros tempêros
em um jiló no coração...

Manuscrito de Teclado

Miro 13.02.2012

Competente e bela
como leite desnatado
um manuscrito de teclado
em poesia mecanizada

Voz suave e  sem tempêro
de uma cantora sertaneja
interpretando Renato Russo
Estou de volta... casada...

Rock em ritmo de balada
um espelho transparente
nem frio, nem quente...

Como beijo técnico sem saliva
goibada comum sem queijo
e cachaça mal destilada...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Romance

Miro 13.02.2012

O romance só permanece
se ainda for incompleto
se o ciclo estiver livre
para qualquer espiral de tesão...

Caso ele seja satisfeito
murcha como flor em vaso
por mais "agua que se dê"
não há terra para sair do chão!

Precisa de algum risco
que produza adrenalina
acelerando errado o coração!

Pois se for feito de paz
o peito se enche de calma
e esvanece qualquer paixão...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Diabos & Anjos

Miro 12.02.2012

O lugar comum dos diabos
é tornar a vida um céu
em troca do futuro inferno
dando a alma na contratação...

O normal de qualquer anjo
é sussurrar "não é adequado"
em troca de uma eternidade
em estática contemplação...

São faces da mesma moeda
no humano conflito da escolha,
que quando traz o esperado
é um paraíso de satisfação!

Porém se o fim for frustrado
vem o fogo do arrependimento
cobrindo com água fervente
o cérebro em purgação!

Se decidir é ter liberdade
o ato em sí não é a questão
mas as suas consequências
o que produz na contra-mão...

Ser livre como o diabo
que quebra divinas regras
ou obediente qual anjo,
em puxa-saco da criação?

Não há paraiso ou inferno
nada além da consciência:
neste caldeirão a culpa ferve,
nele se goza de satisfação!

Preso a qualquer dilema
cada um vive seu calvário
perdoando um dos ladrões
no momento da decisão!

Só não dá para ficar parado
feito frango na encruzilhada
sem saber que vela acender
com o fósforo angústia na mão!

Assim, se errado decidir certo
no errante caminho de ação
cada escolha será um passo
da felicidade em digestão!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Como Você é feliz?

Miro 09.02.2012

Ela me diz...

-Sim,
eu gosto
de homens
e de mulheres
não no sentido
bíblico
ou por simples
inclinação!

-Eu já gosto
das boas
companhias
que me dêem
prazer
e alegria
sem qualquer
complicação!

-Para mim
pode ser
Cassiana,
Patricia,
Ricardo
ou Gustavo
José
ou Maria!

-Quero
pessoas
que me tragam
vida
que não considerem
meu desejo
pecado ou
baixaria...

Pá de Cal

Miro 09/02/2012

Quando a culpa chegou
veio como chuva de pedra
estilhaçando vidraças
em inesperado temporal!

Não deu tempo
para fechar as janelas
recolher as roupas íntimas
penduradas sem grampos
no nosso varal!

Ela molhou teu rosto
em lágrimas de ódio
deixando-me nu
em teu tribunal!

Teu martelo de palavras
decretou o meu degredo
sem nenhuama apelação
jogando em minha cara
 uma última pá de cal!

Corda Bamba

Miro 09/02/2012


Há uma corda bamba
na luz do teu olhar!
Será um bom caminho?
Será que vou despencar?


Há uma ponte suspensa
no canto do teu sorriso!
Será um sinal de carinho?
Será que vou ultrapassar?


Há quase um nada entre nós,
apenas bocas sem sinais,
e um quente... sem se falar!


Será que algo vai acontecer?
Há tempo para algo mais?
Vamos para para outro lugar?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Espantalho

Miro 07.02.2012

Você em mim
foi mal criada
uma erva daninha
de espinhos
dentro do corpo
bem espalhada...

Assim sem destino
parado no tempo
virei teu espantalho
desengoçado e só
curtido ao vento
e cheio de nós...

Hoje nos ombros
estão os teus corvos
em orgias banais
gritam teu nome
bicam meu rosto
em carinhos letais...

Eles cagam sementes
do nosso depois
são novas espécies
tão inúteis e podres
como quer o qualquer
de um de nós dois...

Prisma Sujo

MIro 07/02/2012

um vesgo olhar
sem perspectiva
um prisma sujo
das cores incapaz...

a não ser o chumbo
das fumaças griz
onde sem janelas
o céu se desfaz...

não há lágrimas
não há dúvidas
nem melodias....

não é lamento
nem é saudade
é só uma poesia...

Eterno Cio

Miro 07/02/2012

Como um condenado
não deixei de morrer
em cada novo instante
que Você me nasceu...

Como um prisioneiro
não deixei de lutar
em cada nova teia
que Você me teceu...

Virei um Lázaro vagante
no teu gelo e mais além
paralelo a teus estrados!

E numa cela sem grades
penalizei-me em eterno cio
por um tesão não realizado...

Demônio Particular

Miro 07/02/2012

Quando o velho cura
disse-me em voz grave
que Deus havia criado
meu demônio pessoal!

Respondi: meu Pai é Ateu
e se Ele me trouxer pecado
será belo e cheio de vida
longe do teu paraíso ideal!

O Padre ainda quiz me beijar
e eu corri deste santo sem fé
em busca de uma cruz sadia!

Encontrei meu Pai chorando
rezando para que meu caminho
não fosse de bençãos vadias!

Lápide Nua

Miro 07/02/2012

Era para ser um pulo
entre meu pecado nulo
e a tua santa hipocrisia
em noite louca ao luar...

Foi só um salto no escuro
sucumbi em um chão duro
sem ter a tua companhia
que ficou sem sair do lugar...

Mas a dor não foi só um ovo
trouxe-me um bico novo
e penas ágeis para voar...

Enquanto Você continua
bela como uma lápide nua
sem nada para se decifrar...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

i9 Só

Miro 1.2.2012

Só                                Só                              Só
e em silêncio               e em liberdade           e em cadências
grilos                           tribos                          brilhos
e gritos                        atritos                         britas
ácidos                          óbvios                        concretos
no vácuo                     no certo                      agoras
dos ouvidos                 do errante                  decadentes
moucos                        louco                         pouco
sujos                            viajo                          em cujo
e tapados...                  cansado...                  atrapalhado

Só                                 Só                              Só
e em ruptura                e cataléptico              e em conflito
trincas                          gravo                         talhos
gralhas                         grelha                        gruas
ávidas                          íntimas                       góticos
sem perdão                  do teu frio                  descartes
teu castigo                   como me anulo         equivocados
justo                             frouxo                       lixos
casto                            murcho                      bichos
de pecados...               congelado                  domesticados

Só                                 Só                             Só
e em uma fenda           e em delírio               e em confusão
cravos                          tremo                        corro
crises                            travo                         colho
únicas                          inédito                       caótica
existenciais                  teu arco-íris               espuma
teu arsenal                   sem cores                  de teus líquidos
tosco                            coxo                          gosmas
tíbio                             cacho                         grudes
enferujado                   esbugalhado              descolados

A Fome...

Miro 1.2.2012

A fome é real
e a carência habita:

falta tempero
falta carinho
falta tesão!

E a falta é minha
pois cubro tua ausência:

com o que não tenho
com o que temo
com o que não sou!

Já não sou mais Você
no vazio que não me agita:

sem o teu dinheiro
sem as tuas verdades
sem a tua inteligência!

Desenvolvo alguma luz
além da tua inconsciência...

Ar

Miro 1.2.2012

Dominada a mente
livro minha alma
de qualquer vontade:

ainda em vida
quase uma morte
sem verdades
ou nuas mentiras!

Nesta ausência pura
sinto o primitivo
de um ritmo pulsar:

que não é vida
que não é morte
que não é verdade
e nem mentira!

É um hálito simples
que cria algum ar
que ainda envolve:

necessário a vida
supérfluo a morte
novo em verdades
sem velhas mentiras!

Sempre na medida
para que eu não pare
de te respirar! 

Sino

Miro 1.2.2012

Sem tesoura, faca ou navalha
arranco os fios de teias vadias
implantados em minha mente
com grampos de suave tirania!

Arranco minhas falsas unhas
e sem tuas armadilhas letais
bebo o veneno de novas luzes
com sede de invernos boreais!

Destruo a imponente sepultura
e faço do luto um único sinal
para afastar-te do meu destino!

Sem cruz, alhos e água do cura
sobrevivo ao teu estar ausente
no que antes parecia um sino!

Aorta Sagrada

Miro 1.2.2012

Um Acre cresce na garganta
como dissonância de vida
e com esta bola de impulsos
faço embaixadas principiantes...

No chão, algum destino escrevo
com o leite materno vomitado
que me alimenta e me afoga
em ciclos de amor e ódio...

Perco nos dedos a sensibilidade
e o pesado vira leve martelo
contra as paredes quebra-ossos...

A poeira incomoda meus olhos
que sem caminho para chorar
desertifica a sagrada Aorta...

Curto Circuito

Miro 1.2.2012


A cerca elétrica dos teus apreços
ligada em duzentos e vinte volts
foi cuidadosamente instalada
ao redor de minhas vontades...

Com meu consentimento ou não
concertinas, muros altos e grades
criaram uma prisão de opções
abençoadas pela mãe dos santos...

Os laços de fita foram se apertando
e o que era elétrico virou um curto
nos poemas da parede underground...

Onde só o vazio do teu entre trens
é um silêncio capaz de conviver
com o justo destes trilhos aterrados...