sexta-feira, 21 de abril de 2017

Lapsos Tristezas

Miro 14.05.2017 Estância Betânia

O olhar cansado e velho… de estradas curvas
busca-se no horizonte… como incenso vencido
querendo algo dos céus… mesmo que insípido
de uma janela devassa… com íris de crianças!

Por uma brecha entre nuvens grisalhas e turvas
acolhe desbotados raios de um Sol envelhecido
que apesar de cortantes, frios e de efeitos lívidos
acendem as parcas lenhas de tíbias esperanças!

O peito se enche de motivos nos vazios sem gelos
e escarra verde a goma seiva dos pinheiros vãos
lançando ao solo sem tônus… suas pinhas de energia!

Que ao deixarem a copa mental, agora sem cabelos
substituem as inexatas súplicas por Parca oração
transformando lapsos tristezas… em húmus poesia!



Tíbia (adjetivo) morna.
Vãos: ocos
Parca: da mitologia grega clássica, cada uma das três deusas (Cloto, Láquesis e Átropos) que determinam o curso da vida humana.


domingo, 26 de março de 2017

Desabotoada Mágoa

MIro 26.03.2017

Coração desmazelado
em frangalhos
fibras em farrapos
vestido de andrajos 
sentimentos…

Emoções em cacos
raciocínio vazio
no ôco do osso
pagando pedágios
em lamentos…

Luto antecipado
amargo na boca
solidez da solidão
envolto em gelados
sofrimentos…

Chaga impensada
imprecisa mente
espalhada
por naco de espelho
agourento…

Zumbi efervescência
em desordenado
distúrbio
um confuso motim
virulento…

Senso em descenso
esfíncter frouxo
fatigada fé
desabotoada mágoa
sem esgotamento…

quarta-feira, 22 de março de 2017

Lágrimas sem Rimas

Miro 22.03.2017

Coração pequeno
olhar de lado
jeito gaiato
um rato...

Ligeiros passos
sem rastros
rabo preso
defeso...

Valores podres
bolso alheio
ágeis dedos
segredos...

Veias abertas
garganta nua
sangue cru
canguru...

Morte súbita
corpo inerte
rude calma
na alma...

Paralelo final
amor ladrão
em ti aborrece
fenece...

Roubado tempo
sonhos no chão
misto de cachaça
e mordaça...

Do que alimentar?
Nojo ou saudade
insípida escolha
mirolha!

Resta o desabafo
o expurgo do céu
mal-aventurado
pecado... 

Coito interrompido
sementes no chão
secam como lágrimas
sem rimas...



segunda-feira, 20 de março de 2017

Ressaca Xamã

Miro 19.03.2017

Ai minha memória
não aquela antiga
que compôs amiga
minha torta história… 

Aquela que de manhã
não diz aonde estou
que seca o que hoje sou
numa ressaca xamã!

Então só a lógica me salva
pondo-me num escaler
sem rumo remando ermo!

É quando rumino ressalvas
propondo-me esclarecer
o que de ruim por a termo?

sábado, 18 de março de 2017

Pelágicos Embrulhos

Miro 18.03.2017

Tua presença me confunde
como uma bússola inocente
paquerando um perverso ímã
que rasga o véu dos sentido
e deixa nua a rosa dos ventos…

Não há como acertar as vergas
diante de teus éolos erráticos
que enfunam e murcham panos
como enganosa ilha flutuante
no olhar exausto dos naufrágios…

Uma corrente marítima instável
que faz bambolear meu tombadilho
deixando meus sextantes inúteis
e os astros tontos e sem ditas
para traduzir alguma calmaria…

Não há como pescar teus signos
e diante de ondas de tesão e dor
meu talha-mar derrete-se, congela
num influxo azedo que mistura
sal de jejum e mel esbanjamento…

E a mente num escaler sem remos
digita SOS ao coração mareado
que lambe teu peixe de sereia
num testamento sem herdeiros
que picua pelágicos embrulhos… 





Significados de termos incomuns...

rosa dos ventos é um desenho que serve de instrumento para a navegação geográfica, utilizada para auxiliar a localização de determinado corpo ou objeto em relação a outro. É formada pelos pontos cardeais e seus intermediários.

éolos: ventos vigorosos

erráticos: que mudam constantemente, irregulares, imprevisíveis

enfunam: que enche as velas do navio de ar

sextante: medidor óptico de reflexão, que permite medir a altura dos astros e seus ângulos dentro de embarcações, mesmo diante da instabilidade do observador. 

tombadilho: superestrutura erguida na popa do navio

talha-mar: parte inferior do beque do navio, que é a parte mais avançada da proa, em sentido figurado nariz.

influxo: influência

escaler: pequena embarcação a remo que serve de transbordo e salvamento nos navios

picua: entesoura


pelágicos: marítmo



terça-feira, 14 de março de 2017

Complexo Querer

Miro 14.03.2017


Ah! Meu simples querer
que quer fazer o bem
e que quer também
o querer dos outros
em igual simples querer…

Ah! Meu injusto querer
que quer mais da justiça
que não valida a cobiça
e quer com os outros
um eterno absolver…

Ah! Meu torto querer
que quer as curvas
o caminhar que turva
e sem os outros quer
com os tombos aprender…

Ah! Meu direto querer
que vai logo ao ponto
sem sequer estar pronto
e dos outros deseja
um sim pra sobreviver…

Ah! Meu ingênuo querer
que considera normal
qualquer falso ideal
que alguém me apresenta
dizendo me proteger…

Ah! Meu árido querer
que teima em fecundar
no estéril pensar
um porquê que machuca
por mero prazer…

Ah! Meu complexo querer
que é pelo menos a dois
que é do agora e não depois
e que usa o tempo
pra se esvanecer…

sexta-feira, 3 de março de 2017

Pêndulo Poleiro


Miro 3.3.2017

Era para ser só uma ausência:
pequena dependência 
revirando-se no estômago,
mesmo quando este
cheio de chocolate
jazia em compensação…

Era para ser só uma tristeza
daquelas onde a própria natureza
paralisa o tonus da vida
e escorrega sem pressa
para o fundo do poço
em fiel depressão!

De repente virou esperança
e nos olhos férteis da lembrança
transformou em brinquedo
as nuvens de chumbo
que descoloriam
o véu da capacidade…

Aí cresceu e se fez patroa
dos pensamentos à toa
e do livre coração,
engaiolando-os juntos
no tal pêndulo poleiro
que se chama saudade!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Espinhos & Sementes

Miro 15.12.2016

O quanto lamento ainda te amar?
Quase nada, pois nada tive de Você
e neste amor sem tempo ou porquê
não cabe perdão, nem arrependimento.

Nem sei se é um forte sentimento
sei que dura uma eternidade vazia
e produz uma puta saudade vadia
que machuca sem Você me tocar!

Mesmo assim cultivo a esperança
de vê-la em quentes carinhos
sentindo o mesmo que sinto por ti!

Mas tudo morre sem ser criança 
quando escolhes os espinhos... 
das sementes que não te ofereci!

Silêncio Consuetudinário

Miro 10.01.2017

Como viver momentos 
extraordinariamente normais...
sem que ninguém saiba
de minha profunda irritação
com tanto feijão com arroz? 

Como tratá-los como devem 
se não causam nenhum impacto 
em minha memória emocional 
e estarão esquecidos logo logo 
sem nenhum depois?

As vezes os conto 
como se fossem diferentes
e deles faço de conta que formam 
um rosário de contas iguais, 
onde entôo a mesma prece 
em silêncio consuetudinário…

Outras os deixo tomar doma
do meu grito mais animal 
e os solto num rugido surdo 
na floresta de concreto armado, 
só para sentir o eco 
de outros gritos iguais 
que cantam a solidão 
do trivial ordinário…

O que faço com eles, 
se eles aumentam minha coleção 
de incipientes escolhas 
que não produzem nada... 
nada além do nada?

Talvez num dia destes qualquer 
assumo a coragem 
de tratá-los com tal desprezo, 
antipatia e desrespeito, 
e numa convencional poesia…  
os grife com um tom diferente 
da normalidade acostumada!