sábado, 26 de outubro de 2013

Gozo no Forno

Miro 15.10.2013

Enleado no berço da vontade
qualquer coisa vira intensão
um virtuoso círculo vicioso
no gostoso nu de tua vaidade!

A perversidade corre diferente
quando a força de um chicote
estala no ar segurando o riso
e cria no ventre o indescente!

A língua se enrola engomada
despertando cócegas e apetites
em um gatilho que não tem cão!

É o início de um gozo no forno
que no acre-doce dos tempêros
cozinha meu galo em teu tesão…

Quinto Naipe

Miro 15.10.2015

No quinto naipe da má intenção
um jogo sujo de cinco Ases…
sem curinga que bata os Reis
o logro supera a própria virtude!

É a rasteira liberdade compondo
as trincas de um seio sem rumo
que nem amamenta nem goza
estéril como a quadra não vista!

Se o jogo é de cacifes sem limites
a mesa só tem proprietário incerto
como se Deus não risse das cartas…

Mas o diabo tem suas artimanhas
e investe fogo no vão dos blefes
onde se ganha com a menor valia!

LIxa Suja

Miro 15.10.2013

O talho entre as pernas era o argumento
a calça branca apertada até a dupla digital
espalhava um cheiro de sexo com cobiça
linda como altar novo ainda sem um santo!

Mexia suas partes com o gosto dos limites
envolvendo homens e mulheres sem donos
em um ritual de incompleta degustação
sem qualquer taça para conter seu vinho!

Ficou assim como cascavel mal matada
corcoveando nos vão obscuros do chão
por onde os desejos escorregavam em fila…

Depois descabelada maquiou-se no banheiro
recompondo a moldura ao redor dos beiços
desgastadas pela lixa suja dos beijos vazios!

Fora do Esquadro

Miro 15.10.2013

Sinto a lei como uma "forma"
que deforma meu amor eterno
e presidiário de minha liberdade
pergunto se ela é céu ou é inferno!

Vejo o bem no vão dos medos
no vazio das impossibilidades
cheio de dedos para desenhar
a inerte espera da boa vontade!

E se há nesta briga vencedor
não serei eu a dizer quem é
do dilema eterno me despeço
rezando um terço sem ter fé!

Carregarei comigo sombra e luz
com um certo dom para enquadrar
o errado escondido no incerto
e o que é injusto para se julgar!

Pedindo paz aos santos equívocos
detono a fé de rígidos quadros
colecionando favores da verdade
pelo ímpar cizo fora do esquadro!

Pontos Azuis

Mro 16.10.2016


Bem perto do que é óbvio
longe de qualquer decisão 
quero viver só o presente 
como se fosse um sempre
o ausente da intenção!

Sujo pelas apertadas trilhas
que deixaram suas marcas
em espinhos dentro de mim,
mas que me deram força
para livre escolher novo sim!

Pronto para tocar sem medo
a agulha afiada da roca
que fia o tenso do agora 
tramando com pontos azuis
a tristeza que já foi Senhora!

Raio sem Luz

Miro 16.10.2013

Ancorei na baía dos mortos
onde os arrecifes são tortos
e tatuam nas minhas costas
tua cova em forma de cruz!

Afundei na maré da decepção
sem o salva-vidas da tua razão
e ao sentir-me tolo e sem rimas
vomitei sonhos que não compus!

Fiquei bravo feito inóspita ilha
socando a água pulsante ao redor 
ante o naufrágio dos controles nus.

E à tua navegante barca ao largo
mostrei o melhor das minhas dores
para espantá-la como raio sem luz!

Tapete Velho

Miro 16.10.2013

A trama do vínculo
esticada no liso chão
virou um tapete velho
sem esconder as sujeiras
da impetuosa paixão.

Um tapete desgastado
esquecido pelo tempo
pelado de tanto pisado
enfeitado de oco das traças
bem ao lado do colchão.

Um tapete agora sem dono
que maculado de manchas
está pronto para levado
para um mercado de pulgas
longe de qualquer atenção…

Par Original

Miro 16.10.2013

Sinto a vida
perto do termo
enfermo e de pé
esquecido no barco
perdido e vazio
do ungido Noé.

Sinto-me infiel
cruel até
com qualquer idéia
de Deus
marginal
a todas as fontes
impuras
da fé.

Não quero mais
brincar de anjo
decaído
filho pródigo
ou espírito
encarnado
para expiar
o desconhecido.

Sem consolação
rogo pragas
ao humor divino
por me sentir
assim
tão mal
perto do fim.

Só me resta
no gesso final
pagar infeliz
com moedas
de César
por algo
que não fiz

Mesmo assim
agradeço fervoroso
a rebeldia
nua
que entre o bem
e o mal…
permitiu
o incestuoso ato
do par original!

Imprecisão

Miro 16.10.2013

Grotesca e tosca
como uma régua
que perdeu sua escala
em torta deformação…

Barbante sem prumo
que não tem mais medidas
só as necessidades
em nível da imprecisão…

Padrões que de tão rígidos
só mediram a distância
entre o zero e o nenhum…

Uma balança desregrada
com seu infiel em riste
a pesar os pesares… comuns!

Idéia sem leme

… mesmo que o verso seja curto e a ideia sem leme navegue por bares e rios sem saber das marés haverá sempre uma bússola a criar algum sentido que não seja o óbvio derramando das impossibilidades criadas pelo acre das críticas internas que sobrepujam a mais sincera emoção…

por L'Hopital

Miro 16.10.2013

Tempo de ser algum
qualquer número
longe destes zeros
sem restos nenhum!

Navegar em algarismos
sem complicadas contas
sem raizes quadradas
do um!

Viajar nos infinitos
e só cobrar das frações
a imprópia indeterminação!

E mesmo por L'Hopital
jamais levantar o limite:
do nossos zeros em divisão!

Dono de um Nada

Miro 16.10.2013

Só um resto
um cisco,
mesmo assim
a vontade estava ali:
pequena
e tênue
como um fio.

Tecia tramas
entre outras
vontades,
carregava nos olhos
o intenso
das feridas
sem curativos!

Pensava nas dores
como se fosse
Doutor,
mas era só dono
de um nada
prá la de
comum!

Cruz da Indecisão

Miro 16.10.2013

Era só uma vontade
que depois, muito depois
se transformou em desejo
simples como o néctar da flor!

Era só uma liberdade
que sem querer, se foi
no ralo comum de um beijo
tragado na fumaça do amor…

E aí veio o tesão sem conta
pronto para se fazer feliz
mesmo depois da paixão…

Mas sem ter a sina nos dedos
se fez menino indefeso
na cruz da indecisão!

Universo

Miro 15/10/2013

Era para ser só um verso
uma rima de mulher
medíocre
e sem sentido…

Mas o improvável
se fez poesia
e desafiou o tempo
com facas e canivetes…

Sangrou
a própria solidão
quase sem coragem…

Pois era para ser só
mas o nada se fez Universo
de uma rima qualquer…

Força do Qualquer

Miro 16.10.2013

Belo e rígido
como uma taça
sem vinhos ou seios
a sustentar!

Sentiu-se como gole
livre e sem causa
fazendo a vida
soluçar!

E assim sem críticas
em uma balança
do infiel…

Desatou laços e nós
com a louca força
do qualquer!

Em Greve com a Tristeza

Miro 23.10.2013

Mesmo que torto e infeliz
dobrar a tristeza no peito
caminhar sentindo pétalas
como se os pés tivessem chão…

Ter no olhar a porta aberta
e o sorriso largo dos horizontes
voltar a ser menino sem medo
ou qualquer recalque reprimido…

Estar em greve com a tristeza
como se ela não existisse
nos pedaços criados divididos…

E simplesmente parecer feliz
frente a ilusão de ser alguém
com o peito quieto e sem paixão!

Mulher Esperança

Miro 26.10.2013

Nos olhos
ainda tenho esperança
um tanto cansada
usada
mas mesmo assim
esperança…

Faz muito tempo
que ela nasceu
acho que foi
com a primeira
rima
ainda criança…

Ela cresceu
irmã da consciência
namorou
utópicos sonhos
e se casou com
a realidade…

Sofreu
com Sartre
e depois da separação
quase se tornou
agnóstica
sem a eternidade…

Recriou-se
mulher
quando lésbica
casou-se no civil
com uma virgem
paixão…

Já madura
e solitária
experimentou
de tudo
Santo Daime
erva da juventude…

Envelheceu
comigo
e hoje
sem pernas
corre só
na imaginação…

Logo será
minha lage
num abraço
eterno
em renovada
completude…

Bílis do Apego

Miro 26.10.2013

Preso na minha própria casa
caseiro de meu inferno astral
limpando fezes de meus cães
algemando rancor aos dentes…

Estou só sem terços nas mãos
num emaranhado de contas
nas costas a dor da frustração
frita o ciático no óleo tortura…

Traído pelos pés em desalinho
percorro os muros e cômodos
num incômodo rondar vazio…

Só paro no bacio do banheiro
onde descarrego minha alma
digerida pela bílis do apego…

Jogo da Luz

Miro 26.10.2013

Há bondade nos maus enganos
e muita maldade nos acertos…
Há verdade nas dúvidas insanas
e muita mentira no que parece bom…

Há direitos no esquerdo plano
e tanta vaidade na ilusória certeza,
que torna feio… o ideal simétrico
e o perfeito toca… em desajeitado tom…

Não é possível separar os pólos
nascidos juntos como céu e inferno
se o pecado e a virtude formam uma cruz…

Quantas vezes só a sombra se quiz
mesmo sabendo que ela não existe
sem a existência óbvia… do jogo da luz!







Deserto da Vontade


Miro 26.10.2012

Sabe aquele momento em que a vida só cobra tristeza e dor
aquele ponto da história que o protagonista pensa em desistir
que o sonho vira pesadelo, a esperança acaba em depressão
e melancolia impõe-se companheira da alma solitária e aflita?

Sabe aquela cena que a tela escurece e só uma lágrima brilha
quando no teatro uma música atonal pousa aflita no silêncio
e o maestro vai para casa esconder-se da falta de aplausos
buscando algum placebo para culpar os efeitos colaterais?

Quando a escolha fica contra o destino implacável dos deuses
mesmo depois que os doze trabalhos foram prá lá de cumprido
e o suor seco nas têmporas conserva só insossas mesmices?

Quando a encruzilhada vira uma imensa rotatória sem final
como se um rabugento cachorro procurasse seu rabo perdido
numa helicoidal progressiva riscada no deserto da vontade? 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Insônia

Miro 6.10.2013

Era só um relógio no quarto escuro
com os ponteiros girando… girando…
como a noite… sem sair do lugar
entre tic-tacs só o som das ausências…

Um silêncio de se ouvir o sangue,
vez por outra quebrado pela tosse
ou pelo som do pijama no lençol
em movimentos aleatórios de tédio…

O tempo vooando feito beija-flor
ora parado no ar, ora trisco de luz
compondo lento a impaciência…

Preocupação, insônia, depressão
em uma obsessiva roda do tempo
a espera do primeiro raio de Sol!

domingo, 6 de outubro de 2013

Libido Babilônica

Feito olhos de jacaré no escuro
O verde cintilava quase nuclear
Seus dentes brancos mal apareciam
Guardando na calcinha intenção atômica...

O riso de síncronos desejos impuros
Deu conta dos espaços vazios do lugar
Sem formas, sem cores, às sombras gemiam
Engolindo crua...  a libido babilônica

Vez em quando um peixe no zoom
Deixava um som de pressa estranha
Sabe se lá de caça ou de caçador...

No escuro, a vontade se fez comum
E um gozo infindo fisgou as entranhas
Cerrando os dentes em prazer e dor...