terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Vô Francisco Pereira da Silva

Miro 21.1.2014

Quarenta anos depois
ainda carrego comigo
algumas de suas manias
e hábitos mais singelos:

Escuto óperas sozinho,
escrevo versos de amor,
converso com os amigos,
construo pontes e castelos!

Amo a Pátria e a natureza
e com tua franciscana fé
choro em verde e amarelo!

Hoje é o teu aniversário e,
no longe eterno do jardim
cultivo tuas flores com zelo.

Juiz sem toga

Miro 30.10.2013

Mesmo com o coração apertado
e o pensamento em encruzilhada
fico a espreita de tua sentença
mesmo sendo um juiz sem toga!

Em pedaços componho versos
multiplicando os zeros quase nus
ao redor de um tédio constante
que me faz acreditar nas drogas.

Sou perto de tudo que inexiste

velhas amigas equizofrênicas 
e uma paixão chamada demência!


Teu raio de luz me traz cegueira
estou morto no corredor da morte
e não quero qualquer clemência…


Mel além da colher

Miro 9/11/2013

Era aquele tipo de mulher
que jamais seria explicada,
interpretada
talvez…

Entendida?
Umas poucas vezes
no cio de outra feminina
tez…


Um mel além da colher
com os dois seios
ao vento!


Sempre bem acolhida
por impróprios desejos
atentos!



Lata dos "enganos"


Miro 21.1.2014

Jogue-me
com teus dados
no verde acre
de novos planos!

Julgue-me
não reciclável
diante dos teus
preciosos ensejos!

Lance-me
como descartável
no lata dos "enganos"!

Critique
o fruto nascido
da flor de teus desejos.

Determinismo

Miro 4/12/2013

lia-se nas mãos
riscos imprecisos
onde os destinos
faziam pontes…

hoje com pés descalços
piso nos cacos
de um vidro
que não quebrei!

só tenho dores
e o teu perto
transformou-se
em ontem…

teu cheiro
é um rastro
que sigo lento
por onde não sei!

amanhã só
e sem faro
não terei mais
que te seguir!

entrego-me
ao acaso
nos tropeços
desgostos teus!

olho o terço
quebrado
como um berço
para dormir…

onde há espaço
para felicidade
no determinismo
do teu Deus?










Ventre em calmaria

Miro 7.1.2014

estava escrito
nas paredes
com unhas e dentes
e a incolor tinta do prazer

estava dito
nas entrelinhas
com lágrimas de crocodilo
diante da piranha que não queria comer

estava pronto
como doce em conserva
depois de um prato em banho maria

estava tonto
sem rumo certo nas ventas
no inodoro mar de um ventre em calmaria

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

luzes dos versos

Miro 1.1.2014

e se no ano a vida for só uma pedra,
um suposto tropeço de Drumond,
que me faz perguntar à ausência:
"o que me falta… e agora José?" 

e se no ano for um pecado pensar… 
será ele uma inspiração de Clarice:
"o que vai ser de minha Joana?
ouve o meu silêncio"… vazio em tua fé?

e se não houver liberdade e prazer?
que bandeira me levará a Pasárgada,
libertar-me de poética paulada infeliz?

e se este ano não for franciscano,
for de recordações e brancas nuvens
sob as luzes dos versos… que não fiz?

Agradecimentos
1) Aos meus filhos, moradores das linhas e entrelinhas dos meus versos:
Carlos Francisco Pedroso
Paula Cristina Pedroso
José Augusto Pedroso
Joana Cristina Pedroso
Antonia Ingracia da Luz Pedroso
Helena Victoria da Luz Pedroso

2) Às incidentais luzes dos poetas, moradores de cada uma das estrofes:
Carlos Drumond de Andrade
Clarice Lispector
Manuel Bandeira
Francisco Otaviano







domingo, 12 de janeiro de 2014

Bambolê

Miro 11.1.2014

Minha ira
se amplia
a medida que
meu espaço
é esmagado
por Você

Minha dor
se espalha
no sangue rose
que gruda
no corpo
feito laquê

Minha luz
se apaga
em teu buquê
de flores
falsas
demodês

Minha voz
emudece
sem um porquê
bebendo
teus silêncios
privês

Minha noz
paraliza
e recicla o clichê
liofilizado
por teu ágil
bambolê

Charolês

Miro 5.11.2013

O nariz em alerta
funga imitando o touro
que da campina
cheira no ar…
fogosidade!

O pulso acerta
o sinal de agouro
detona cercas
e arames…
impura vitalidade!

A picareta certa
quer o alvo tesouro
a fêmea ardente 
que atiça… 
dura ansiedade!

A pele aperta
quando sente o couro
da mina escura
em avalanche… 
da vontade!

Gozo na oferta
sem regateio mouro
fisgado no ventre
pelo anzol
novidade!

A porta aberta
para desaguar o ouro
que escorre liso
pelas brechas… 
da liberdade!

Sob a coberta… 
cena de matadouro
dois corpos
sangram…
uma só saciedade!

Mães & Filhos



Mães
Miro 12.01.2014

Perdão minhas amadas
por lhes dar filhos errantes
pelo DNA meigo e egoista
um pouco narcísico… hedônico…

pela genética agitada
de tantos amores distantes
pousando fora da pista
num tropeçar tísico… irônico…

pelas crises de autênticos tratos
pela falta de escuta e tato
por não lavar o sujo… de teus pratos…

por ser ateu em excêntrico ciso
criando liberdades sem crivo
impondo limites…  imprecisos…


Filhos
Miro 11.01.2014
Perdão meus amados filhos!
Escolhi mulheres erradas
para serem suas mães
envolvido num sonho ímpar…

fiz e refiz os mesmos trilhos
com a consciência alugada
alimentei alguns banidos cães
com ossos e pérolas do amor…

só não fui mais impiedoso
de quem me escolheu querendo
transformar-me em um santo par…

hoje sou anjo caído e sem gozo
num vazio de infernos vivendo
o ombro marcado por alheio andor…