quinta-feira, 2 de abril de 2015

Fumaça sem Fogo

Miro 2.4.2015

Um antigo drama de apetite
se espalha diante da cortina
repetindo uma inevitável sina
em curvas sujas e concêntricas.

Se rompo de novo meus limites
e não saio ferido desta rinha
é que conservas ainda a tua linha
em reserva de glórias egocêntricas.

A lenha além de podre está molhada
e não alimenta mais o marcado jogo
de nossos velhos vícios e vaidades.

Mas se há fumaça ainda que sem fogo
é que as brasas e cinzas desejadas
servem de ofício às vãs necessidades!
 

Cleópatra


Miro 2.4.2015

Diante de tua Cleópatra em sensual deságio
afio meus dentes no arrepio de tuas cochas
rasgando teu ventre sem estressar minha língua
prendendo-me aos grilhões de teu linho egípcio.

Nado com teus velhos crocodilos e escravos nús
sem me ferir ou ferir a tua tez lisa de rainha
lento, asso cenas no fogo mágico de tua dança
e alugo a fumaça narguilé do mais velho ofício.  

Mumifico os teus pés com os dedos da fantasia 
e umidifico tuas dunas com o ferrão de escorpiões
num estertor sem morte que reforça o teu batom.
 
E depois de romper o ácido de tuas urnas e tumbas
espalho o leite necessário aos teus banhos de beleza
amaldiçoado pelas jovens múmias de Tutancamon.

Fresta Caótica

Miro 2.4.2015

Gira em meu peito
um fractal de neve
que arranca dores
sem tirar pedaços...

É uma roda de pás
que levanta mágoas
dos rios mais fundos
que cortam o coração...

Um redemoinho lento
guiado por um saci
invisível e devasso...

Uma fresta caótica
que joga meu vinho
no olho do furacão... 
 

XY

Miro 2.4.2015

O frio fino do tempo
congela e corta
sem pressa
os nós da relação...

O fio frágil da teia
avisa a aranha
que o cio se prende
em depressão...

A feia face do tino
julga e entorta
o lado "do... então"

O faro fisga o tédio
e o ypsilon apanha
do x da questão...