sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Último Gole de Decisão

Miro 24.10.2010

Quando a terra seca, sem ter sequer o úmido do orvalho, agasalhou o tempo em torrões dando aos pés a sensação de que o Sol tinha sido por ali enterrado, saiu o homem do seu pedaço e num abraço de estrada deixou para trás o pouco que um dia quase foi seu.

Nos olhos, nem lágrimas, nem sono, só a poeira intensa carregando o quente, com as narinas arfantes ele buscou no ar algum cheiro de rumo, um sinal diferente de um Sol a prumo, algo que indicasse como ir além do a esmo, mesmo antes que o pó em definitivo fizesse parte do seu olhar!

O terço, a Bíblia, o Santo rasgado pelo tempo, eram pesos extras em sua pouca bagagem, eles guardavam uma fé que já não mais lhe servia, foi quando ele deixou de olhar sobre o cansado dos ombros e encostou ao acaso suas últimas posses, depois em um ato de suprema renúncia, comeu as folhas finas do livro sagrado, acalmando com parábolas seu estômago em vazia revolução.

Não havia mais nada a fazer, nem ir em frente, nem voltar, foi só deixar o corpo minguado e sem forças deitado no colchão improvisado de pequenas pedras pontiagudas ao lado da estrada e assim, pronto, esperou a morte vir ao seu encontro, já que em um último gole de decisão, escolheu que jamais, por mais ais que sentisse, atrás dela... iria correr!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Filha

Miro 24.10.2010

Tome cuidado
tome tequila
fuja da fila
mas não mande recado
nem entre em coma
evite o pó
qualquer alergia
veja o que toma
não tenha dó
e viva com alegria
coma verduras
se adoecer
busque harmonia
algum bom remédio
até tua cura
no tédio
saia dos trilhos
sempre com brilhos
atenta a todos
sustenta teus modos
controla teu pique
de menina e mulher
se ficar... fique
se não quiser
mais que uma
suma
se sair só
se agasalhe
leve uma blusa
se apaixonada
enlouqueça
e não se atrapalhe
mas se confusa
apareça
lá em casa
o ninho
onde tuas asas
foram criadas
com muito carinho
e liberdade
quando puder
cresça
em lume
em perfume
esqueça
as más amizades
não deixe de lado
os bons amigos
e da verdade
seja um abrigo
com seu amor
esteja a vontade
na dor
nos beijos
e dos desejos
não seja escrava
diante dos ais
ou quando brava
lava a alma
com a mesma calma
de teu velho Pai!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

419 a 534

534 Ser interessado ao invés de interessante? Ser ouvinte ao invés de falante? No twitter tudo isto fica eterno e efêmero como este instante...

532 No olho esquerdo um cansaço de estrada sobre negras olheiras, no direito uma paixão infinita brilhando além da maquiagem da velha roqueira!

531 Chegou mais tarde e sentiu no ar um cheiro de sexo forte. Pegou o lençol de lista azarado no chão e iniciou sua tarefa de diarista consorte!

530 Liberdade e amor correm juntos para o mesmo mar de dificuldade e horror...

529 No fundo do copo o segredo: sem medo disse para ela tudo que sentia! E não foi só ela que quiz ir além de ser apenas uma simples amiga bela!

528 Comecei o dia pedindo para ela voltar, terminei arrependido de ter aumentado minha voz em alguns tons, depois não resisti e foi muito bom...

527 O olhar dela era um spray paralisante cheio de pimentas! Avermelhou meus olhos de vontades e depois, ciumenta, partiu deixando saudades...

526 Vou fingir que não sei de ti e Você também fingirá por mim e quando nos encontrarmos o sorriso será social: sem princípios, crenças ou fins!

525 Quem inventou a punição? Que poder a culpa dá a vítima? O que é esta briga externa ou íntima sem a reconciliação, a reparação e o perdão?

524 E o Sol caminhando sozinho para o horizonte se fez vermelho para que todos soubessem que estava assim por pura indignacao!

523 Palpite: A astúcia do príncipe da Astúrias a 300 km/h na chuva, faz-me lembrar da raposa conformada, dizendo que o tempo nao é de uvas.

522 Abriu rápido o grande pote antes que a fome estragasse o dia, comeu com gosto e alegria até se ver no vidro como a última bolacha do pacote.

521 Ao pintar a unha de rosa, no mesmo tom do salto alto, tentou dar um ar de inocência perdida ante as recentes escolhas de mudança de vida.

520 O estrado no meio do corredor era motivo de todos os seus roxos noturnos, resolveu queimá-lo no jardim, durante Lei Seca do segundo turno.

519 Entre o nojo e a imaginação ela bebeu sua criatividade fotografando com o celular digital alguns desenhos erráticos do seu drink tropical.

518 As portas estavam abertas quando eu entrei em ti! Deixei-as iguais quando sai. Só que eu não era mais o mesmo com tudo que desaprendi.

517 O trator sem terra rompeu o sono como um choro de serras e tiros. Dentro da cabeça lobos vermelhos uivavam depois de morto o último vampiro.

516 Leu os cartazes do cinema com indecisão. Queria algo que lhe fizesse esquecer a recente separação, por azar escolheu Comer, Rezar e Amar!

515 Quando o pedreiro sem camisa gritou a tal frase batida: Ah! Isto é tudo que lá em casa falta! Empinou o bumbum com seu amor próprio em alta!

514 Arrasto as horas em poesia sem saber como será o final do dia. Tenho só uma certeza, que meu amor foi posto fora quando limpaste a tua mesa.

513 Quando resolveu assumir seu mistério de menina em única e exclusiva aparição, fiquei quase entre elas, ora como Maria, ora como João.

512 Hora da feijoada de gala no Bar do Craudionor, um festival da senzala, que só a gula e a fome podem juntas compor!

511 Gosto da sensação de virtual sensualidade que certos blogs me trazem, são concursos e fotos que temperam com arte minha ingênua sacanagem!

510 Trabalhar na vida ou em versos ao lado do Minicontos Perversos é mais que um privilégio, é como expiar o vestiário de um feminino colégio.

509 Tudo parecia perfeito até ela descobrir suas exigentes manias, mesmo sendo criativa e diferente, nada o contentaria...

508 Para o MCP: O cheiro do feijão queimado pelo excesso de fogo era o indício que faltava para descobrir nela os segredos do seu sodômico jogo.

507 Entre a quirera e o perverso conto, havia um ponto além da interrogação? Privilegiar o livro do amigo ou se despedir de uma inocente paixao?

506 Com os cabelos longos em mechas californianas, desceu do jipe tombado como se fosse natural e fácil se desvencilhar do seu passado de lama.

505 Minha academia de letras virou um número preso a tua cadeia de Fibonace, consultei oráculos até que algo primo de ti em mim me libertasse.

504 Consumi tuas drogas. Lucrei com teus vícios. Fiz fila atrás de teus namorados e infeliz, livrei-me de ti queimando o ócio de teus ofícios!

503 As estrelas fosforescentes coladas no teto davam uma sensação de novelo, como uma proteção dos deuses frente ao mesmo indecente pesadelo.

502 Enquanto a lasanha assa e assanha os sentidos desde o frio do congelador, que tal abrir um bom vinho e comemorar o sábado com seu amor?

501 As algas tomaram dos rios contas e cotas, consumindo o Oxigênio que era dos peixes, que em feixes fluiam de barriga em podridão de derrota!

500 Qual meu último verso? Nao sei nem do primeiro, foi para a bela professora ou a musa imaginada, um edipiniano verso ou para alguma namorada?

499 A vela acesa em nome do Antônio Santo caiu de lado botando fogo no carpete do namorado, que irritado expulsou-a de seu agnóstico canto.

498 Nacionalista por natureza: verde e amarelo suas cores! A Amazônia e o pré-sal são nossos! Mas queimava ambos como cigarros de falsos teores.

497 Sabia que ali o febril pulsava com o gentil de minha lingua. Um efeito eletrostatico criando insuportaveis choques apos o vortice orgastico.

496 As pequenas varicoses quase sumiam sob os finos fios descoloridos, dando aquelas cochas arrepiadas uma jamais vista natural sensualidade.

495 Vertia meus olhos em lágrimas, ventos traziam a água da depressão em correnteza, como rios atmosféricos desde o mar de tuas azuis tristezas.

494 Manhã de sábado, um típico frio de depois, depois do banho, depois da porta, depois da roupa... depois do depois de nós dois...

493 Entre um cinzel barroco e um pincel impressionista, colho rimas em conta-gotas, pouco a pouco, como lágrimas de qualquer esquecido artista.

492 Uma poesia artesanal, quase um acaso em arte, um descate da razao tirando do lixo mental alguma insustentavel rima natural!

491 Quando pedir um black, aquele chopp com espuma de Nitrogênio, faça um brinde aos virtuais essênios, que inspiraram o gênio do Dorsey Jack...

490 Por uma Santa Causa queimei meus versos. Por um beijo qualquer rezei mil terços. Peregrino, paguei falsas promessas até viver sem destino...

489 Está ficando caro botar pilha alcalina neste brinquedo insano de convencer que a melhor coisa do mundo é se divertir com meu amor por Você!

488 Na praia de Boa Viagem um biquini e um livro de contos perversos brincam de água viva que em versos, revela o fogo em foto única&exclusiva!

487 Livre fui buscar minhas meias para sair da prisão. Encontrei-as presas a arames farpados, enferrujados pela ausência de alguma paixão...

486 Minha amada de chuva molhada, transparente e bela! Em casa eu tomo um capuccino, enquanto um chocolate alpino derrete no fogo a espera dela!

485 Quando o trem lá fora apitou avisando que já era hora, deu no pai um beijo final, que cansado de tantas mentiras, ficou em silêncio mortal.

484 Ela entrou na sala pisando forte como soldado nazista. Todos os olhares pararam naquelas botas sustentando quase 70 cm de coxas narcisistas.

483 Enquanto o pensamento vadiava em poesia, alguém a convidou para uma dança caliente. Quando percebeu, ela estava com outro bem na sua frente!

482 Armou os braços como um ninho e a esperou bebendo um corte francês bom e barato. A noite arrastou-se em poesias até ela fugir do pensionato!

481 Jogou no ar qualquer vã possibilidade. Disse não ao convite para jantar. Sabia que um sim, transformaria para sempre aquela velha amizade!

480 Depois de parar de fumar a tal erva maldita, passou a ter espasmos de lucidez entrecortados de insigths sobre uma humanidade velha e aflita!

479 Tinha 75 anos quando disse que não mais me queria, faríamos bodas de ouro no mês seguinte. Trocou o tédio, por uma entendida amiga de vinte!

478 Diante do desejo obnóxio e vil, deixei-me levar em letras de Bukowski, criando forças para acender algum velho pavio! http://migre.me/20yEE

477 Havia música para se dançar, tacos para se comer, Lua para se enamorar, tequila para se embriagar e muito pouco tempo para enlouquecer...

476 Fiz mágica em tua absurda rotina: um canalha em tua tez feminina, depois sem ter malabares, virei um palhaço patife em tuas falsas esquinas.

475 Ela pôs a garrafa dentro da pia e dançou em cima um velho Axé, desconfiado ele fugiu correndo sem experimentar o inusitado café...

474 A terra estava com um cheiro de chuva nova que a deixou feliz, dando provas da origem interiorana daquele pequeno e arrebitado nariz!

473 Ao ler amigos reconciliados no twitter, depois de se degladiarem anonimanente no xingue.me como animais, conclui que os deuses são virtuais!

472 Descobri em tua polaridade que meu Universo é um Deus em estado de sítio, só sou estável depois que extrai das lágrimas o meu próprio Lítio!

471 A esquizofrenia veio como um vírus letal num email de final de tarde, sem alarde clicou e cruscificou na imaginação seus inimigos covardes!

470 O cara era um serial killer virtual, deletava todos os seguidores sem nenhum constrangimento, matando os que acessavam sua rede anti-social.

469 Quando a indiferença chegou ela estava beirando os trinta, sentiu o não da existência e que já era tempo de tentar no cabelo uma nova tinta!

468 Quando percebi nojo em teu olhar afastei-me como susto de sapo ante sua princesa. Só no lago, foi possível algum conforto anti-indelicadeza.

467 Sería bom se a pessoa acreditasse que meu olhar de amor é sagrado e dele fizesse a noite de sexta-feira transformar-se numa semana inteira!

466 Consultada a natureza, ouviu-se um não prá lá de assertivo: não dava mais para deixar o humano decidir pelos outros seres vivos!

465 Nada de novo na velha cidade: o mesmo político, o padre e o paralítico, até as moscas parecíam iguais, no ar, traços de coliformes verbais!

464 Os olhos ficaram vesgos e pesados depois que a agulha entrou na Eva, sem paraiso ou passado a réstia de luz do amanhã se espargiu em trevas.

463 O teu grito de alforria deixa-me tonto, cego e surdo, enquanto teu silêncio pronto quebra minhas pernas em um só golpe certeiro e absurdo!

462 Vais embora de minha morada! Como ave em arribação, deixa-me os restos mortais de um ninho sem paixão e a sensação de que te perdi por nada!

461 Com fio de guilhotina a lâmina da tua decisão caiu no pescoço, não houve tempo de chorar ou sangrar, só de jogar os sonhos no primeiro poço!

460 Mesmo que Você queira ou finja, não vou fugir para Londres, não vou ficar longe, nem perto, só um pouco mais esperto, como um monge ninja!

459 Entre as linhas de minha mão Você escreveu um não! No meu rosto, marcas de um profundo desgosto, um rio de lágrimas onde navego em solidão!

458 Veio de Goiás em busca de felicidade, o que tinha cabia numa mala emprestada, que ao descer na rodoviária da imensa cidade foi logo roubada!

457 Quando a namorada chegou com aquela saia curta e a camisa em nó, torceu para que ninguém a visse na escada, que nada, foi um griteiro só!

456 Colocou a rede na varanda e deixou o olhar no horizonte. Na sombra dos montes, o mesmo perfil masculino que assustava seus sonhos de menino!

455 A saudade ficou balançando na cortina, no sofá desbotado, a namorada da amiga dormia, nos olhos, uma lágrima menina o sono dela de dó ungia.

454 Enquanto pedaços de vida escorriam de suas veias como areia de ampulheta quebrada, viu que sua hora não tinha saída, muito menos chegada!

453 Maria de todas as Marias, Maria que não queria mais João, que deixou de ser santa e hoje encanta outras tantas com sua humana solidão...

452 Alguém supõe que sou santo, outro meu pecado espalha! Quem me acusa no que falha, se há encantos no errado que a vida em minha fronte talha?

451 Não era mais hora de pensar em mudanças ou de rever seus falsos princípios, diante do inevitável curso das dores decorrentes de seus vícios!

450 Ao ouvir o juiz apitar o fim do jogo, a viúva sentou-se diante do retrato do falecido marido e sem culpas apagou com as mãos o próprio fogo.

449 Tinha mania de arrumar encrencas quando o sono lhe batia as pálpebras caídas! Sentia-se desperto com a adrenalina de uma briga sem saída...

448. Vadia como uma cadela de rua, saiu com uma roupa quase em nua perversidade. Achou o que queria: cachorros, babas e lambidas na sua vaidade!

447 Com a palavra Iphone twittei uma poesia. Sai buscar um suco, ao voltar ela não mais existia! Será um protetor da Appel ou estou meio maluco?

446 Seus lábios sorríam por de traz da transparente borda da taça, por onde ainda escorriam lágrimas finas do Bordeaux abduzido com muita graça!

445 Da muralha de Marvão ela olhou o longe em dúvida ante sua ibérica natureza, nas costas, o vento frio alentejano lacrimejava outras certezas!

444 Louca deixou suas marcas em minhas costas com unhas, lábios e dentes. Não foi fácil explicar em casa como arrumei estragos tão contundentes.

443 Rica de predicados era um objeto desejado por todos os sujeitos em subordinada oração. Na reforma, foi suprimida em subjetiva extrema unção.

442 Quando viu o resultado de sua franciscana decisão, vestiu-se numa fagulha, saiu correndo antes da rádio-patrulha, do celular e da televisão!

441 Longe dos olhos da mulher amada, colhia dores indecifráveis, desenhando esquizofrenias nos muros da cidade com o sangue de frágeis saudades.

440 O amor chegou tão suave em sua vida que se fêz constante, um sempre! Muito diferente da paixão que lhe rasgou o peito em ritmo alucinante...

439 Sua consciência sempre o deixava no fio da navalha: arrebentar os próprios limites em apostas ou adaptar-se calado a sua caixa de respostas?

438 Quando colocou vinagre nos lábios, foi que ela percebeu que sua sede de vingança tinha a exata proporção de seu deserto de esperanças.

437 Colecionou dores com os piores namorados, acomodou-se como crente de um pastor franqueado, ao menos o dízimo não seria por um homem roubado!

436 Gostosa é a dor, quando Você inspira poemas na pele do meu coração, eles compõe tatuagens cênicas, definitivamente gravados em tua intenção!

435 Das lendas urbanas emergiu como se fosse a loira do Estação, pele branca em tom minâncora, beijou-me com lábios frios gelando minha solidão!

434 Não sería lícito abortar uma presidencial corrida, que foi pré-concebida através do estupro do homem morcego por uma múmia mal adormecida?

433 Chegou cheia de fel, tiques emolduravam aspas nos lábios finos, personalidade de Côco Chanel: disse que iría ficar até decidir seu destino.

432 Entrou pela porta da manhã feito um atentado talibã, destruiu torres e metrôs, foi só pó que vôou e meu coração insustentável... desmoronou!

431 Almoço sozinho como poodle perdido na feira, só verdura no lugar de ração, sem sua cota de carinho o que me alimenta é esta vegetal solidão!

430 Ante a violência da cidade, diante dos que nada têm ou de quem não tem nada a perder, deito os olhos entre a sagrada ira e a móbida piedade.

429 Quando me deparo com um gesto de humanidade, acabo descobrindo que há algo além que constrói a minha humana realidade.

428 Joguei com aquela paixão como quem joga na Mega-sena. Investi tudo só por puro palpite, mas acredite, foi uma amiga, que ganhou a morena!

427 Sob o chapéu xadrez, uma carreta de idéias zumbia entre fios de cabelos em gel: para ele, o mundo estaria salvo na próxima célula do Excel!

426 Na hora H não teve jeito, lembrou da amada, no peito veio um misto de culpa e desejo: sería isto direito lembrar da ingrata num outro beijo?

425 No carro um adesivo mostrava abertamente sua escolha multista, por preconceito, foi parado na blits e levou 7 pontos na carteira de morista.

424 Lápis preto nos olhos, risco sensual quase grotesco, com saliva os últimos retoques, vestiu a calça de onça e saiu em ritual carnavalesco...

423 Solidão em tempo de paz só é possível depois que um grande amor se desfaz, ou quando a paixão não deu trégua e teve o gelo como única régua.

422 Fui da paixão a ira num tranco: espalhei em teus olhos uma fazenda de cores, enquanto criavas nos meus xepas de lágrimas em preto e branco!

421 Quando mergulhei meus olhos naqueles olhos escuros, não sabia que estava diante da própria noite brincando de lágrima em meu olhar inseguro.

420 Fiquei paralisado, eu entre elas! Uma longa espera, até decifrar nos olhos molhados de Maria que a saudade dela era tão triste quanto bela!

419 Como agradecer àquela menina? Tinha lá seus segredos, alguns simples, outros sérios, vez em quando transbordava os olhos em doces mistérios.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Takes Mentais

Miro 6 de outubro de 2010.

Penso na criação do óbvio
do que me escapa por um triz,
do que está escondido
bem na ponta
do meu nariz!

Mas que por causa
de alguma burra cegueira
não consigo perceber,
ou pior ainda,
quando não quero
a própria verdade
ver!

É quando
o próprio evidente
a minha vista se despe,
mas por mim não se destaca
misturado na paisagem,
que capturo com filtros,
cobrindo-o de pré-conceitos,
travestindo-o de crenças sofridas,
oriundo de tantas dores
e das frustrações
da vida!

Só mesmo uma crise intensa
pode servir em terapia,
como um anti-colírio,
que eficiente combata
esta visual
anestesia!

Quero algo poderoso,
que me faça enxergar o simples,
sem a influência de ardis,
que quando for projetado na cara
não seja por mim enquadrado
em automatismos
senis!

Talvez tudo isto seja
fruto de anã consciência,
que como um diretor de jornais
acomodado em sua cadeira
trata tudo que é novo
com velhos takes
mentais!

Sol e Noites

Miro 6 de outubro de 2010

Sol sedudor com seus raios amarelados
como longos cabelos de uma Deusa pagã,
distante e ao mesmo tempo quente!
Quero banhar-me sob tua intensa luz
sentir a pele como objeto do teu desejo,
sentir-me ardente por todos os poros,
para que as gotas de suor
prendam em arco-iris
os raios com que Você
conquista minha vida
todas as manhãs!



Noites são muitas, o Sol é um só!
Elas não são serpentes negras
aflitas e em busca de abrigo.
Elas são ecos da presença solar,
fazem parte de uma dinâmica moldura
que enquadram os ciclos dos dias
um paspatur cheio de estrelas,
cada uma delas representando
um dia de Sol,
que em mim
já se foi.






Vestal Solidão

Miro 5 de outubro de 2010.

Há muito
ela previu
minha solidão!
Chegou-me quando
esta aconteceu
pela primeira vez!
Veio como uma pitonisa,
em roupas leves
e em brisas para sempre...
Tocou-me o rosto
em arrepios
e o calor
que lhe senti nos dedos
se fizeram ternos
e fiaram-me
eternos!
Fiz deles
meu sustento
nos momentos
intermináveis,
difíceis,
que sozinho,
quase sem forças,
pude entender,
pude tratar e ficar
processando em silêncio
minha mais completa
e vestal solidão!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Evanescente Vandré

Miro 26.09.2010

Em disparada
Vivi minha vida
Lembrando sempre
de Você
A tua imagem forte
O som de uma queixada
Acima da voz do público
Que por entre fantasmas
Barras e chuviscos
Aparecia de repente
Em branco e preto
Na televisão.

Teu ausente foi tão presente
No vazio dos noticiários
Até que um canal de notícias
Trouxe-me teu aniversário
Setenta e cinco anos
Quarenta afastado do mundo
Com barbas e cabelos brancos
Em uma entrevista rápida
Sobre um vôo
De solidão.

Antes deste encontro
Ouvi boatos e contos
Torturas, fugas, o exílio
Paranóias em silêncios
Histórias da Revolução
Confesso que meus olhos
Ficaram cegos
Em vão.

Com lentes distorcidas
De fortes graus imprecisos
Construi meus pensamentos
E acreditei no que ouvi
Cheio de preconteitos
Ante a tua
Decisão.

Por que se tornar eremita?
Por que tamanha exclusão?
Longe de mídias
De eventos
Dos ventos de qualquer
Confusão?

Não mais contacto
Sem risos ou escritos
Sem flores, sem "Aruanda"
Um exilado das dores
Enquanto em meu canto
Choro a falta de cordas
E dos acordes
Do teu violão.

Sem carta, sem notícias
Nem um som público
Só sinfonias reclusas
Será isto covardia?
Algum altista sinal?
Ou entre todas a maior
Desilusão?

Voei em caças mentais
A caça de tuas asas
A cata de tua
Razão.

Como viver sem ela?
Igual aos antigos quartéis?
Você sabe que ainda hoje
Lá na igreja dos Homens
A ladainha no coro
É a mais pura
violação!

O teu destino distante
A tua sina voluntária
Onde ficaram tuas frases
Sempre tão afiadas
Como espinhos cortantes
Diretos lá do
Sertão?

Busquei no tempo tuas rimas
E nas "Terras de Benvirá "
Encontrei o meu nome escrito
E em um dos teus sobrenomes
Uma coincidência
de irmão.

Claro que são só meus filtros
Dando cor à minha procura
Na viagem despretenciosa
Em tua discografia
Querendo o som dos teus sons
Algo além da entrevista
Uma simples
Inspiração.

Acabei me fazendo complexo
Confuso no próprio escrito
Prolixo em minha rima
Complicando a
Criação.

Depois de te ouvir sereno
Falando de tuas escolhas
Afirmo que ainda hoje
Elas ainda estão longe
De meu pleno entendimento
Mas não de minha
Compreensão.

Foi muito bom saber
Do lugar onde te escondes
Que ainda tocas violas
Que nem tudo era verdade
Que criaram muitas mentiras...
Que muito simples
E discreta
Era a tua
Intensão.

Comemoro o fim teu exilio
Com respostas que nunca virão
Sei que nele não há:
Culpas e arependimentos
E aquele "quem é homem
não chora"
?
Já não tem mais validade
Em minha humana
dimensão.

Chorei ao vê-lo de volta
Quiz ouvir a tua versão
Renovei esperanças perdidas
Mesmo que tenha sentido
Que ainda carregas tristezas
Em teu olhar retraído
Sempre em busca do
Chão.

Será que estás mesmo triste?
Será que estás mesmo só?
Será que ficarás "mal com Deus"?
Eu só quero em desejo proscrito
Que não sejas um morto-vivo
Um patriota sem
Perdão.

Eu quero mais do que lembranças
De um evanescente Vandré
Entrelaçado nas fibras
Como um "Rei mal coroado"
No meu velho
Coração!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

371 a 418 Mikropoesias no Twitter

418 Posso dizer que te amo, mas inseguro eu nem te chamo. Posso te dizer que te quero, mas inocente eu só te espero. Eu te chamo! Eu te espero!

417 Nua encarou os fatos de frente, botou de lado o cobertor que não mais lhe aquecia e abriu a janela, indiferente ao olhar do sonolento vigia.

416 Apertamos tanto, tanto, os entretantos entre nós, que quebramos a casca e, por enquanto, ficamos sós: cada qual com seu meio pedaço de nós!

415 A voz era quase fanha, o nariz em alergias ía para um dos lados, os dentes tortos e na testa uma pinta vadia: uma bela de fatal assimetrias!

414 Quando apareceu na cidade em sua Harley fake, estava cabeludo e barbado, ganhou fácil algumas meninhas até descobrirem que ele era casado...

413 Se o cifrão $ é um S enrabado, o "o" um asterisco * estuprado, o arroba @, como o mito do anão, é suspeito só por ser um "a" superdotado?

412 Por muito tempo o k foi do alfabeto banido, quando foi solto estava tesudo e aflito, sem pensar, colocou o 8 de quatro e chegou ao infinito!

411 A vírgula, em miniperverso conto, queria transar por cima do ponto; tentou convencê-lo, sensual, mas este, tímido, disse não e ponto final.

410 Darwin: o C e o Ç, o O e o Q têm ancestral comum, como o macaco e Você! Alguém sabe porque diabos e como o tal elo perdido perdeu o rabo?

409 Lógica: Se o O é uma letra gorda e o I é uma letra magra, então o ponto de exclamação ! é um ponto de interrogação ? que tomou viagra?!

409 Meses depois que o jovem casal se posicionou em dois pontos: sem proteção ou consciência! Apareceu entre eles uma inesperada reticências...

408 Quando ela pediu hot-dog sem "vina" e o vendedor disse que assim era mais caro: virei sanduiche entre o pedido bizarro e o oportunista raro.

407 O microconto era minimalista, perverso, com profunda concisão, tão pequeno que só tinha 2 pontos: ou melhor um casal de pontos em copulação.

406 A ansiedade dela era tanta que comia fruta verde com gosto de apodrecida, dava parabéns adiantado e sentia saudade 2 dias antes da partida!

405 Adoro inventar coisas inúteis e sem graça: como um celular híbrido, etílico-eólico, recarregado na própria conversação pelo bafo de cachaça!

404 Descomissionei-me aos poucos do jogo: cabelos crescendo em cachos, o tênis sem cadarços, a calça Lee desbotada, a camisa xadrez e mais nada.

403 Na mesma taça de vinho marcas do vício em batons diferentes! Era um indício que na noite quente, a tal homofobia fugiu com o meu ausente...

402 Esquecer o coração em guerra, a mente em total viagem, algum orvalho ainda existe? É o triste que cai dos olhos ante a tua poetisa imagem!

401 Deitar na grama: o céu azul olhar, ficar no limite terra e ar, sentir o breve da brisa, algum calor vem da terra nas folhas verdes e lisas?

400 A lágrima era justa, a saia também! Não queria ficar ali não se sentindo bem. Atrapalhada, disfarçou o choro e saiu quase sem ser notada...

399 Olhava o mistério da menina com cuidado! Como descobrí-la nas entrelinhas do agora? Acabou como Esfingie num louco decifro-te e me devoras!

398 Não criava raizes em nenhum trabalho, sem pensar vendeu a roupa e a mobília, foi se especializando até se tornar marajá com o bolsa família!

397 Depois de ver todas as seis séries de Sex and The City, ele virou para o namorado e perguntou se seus valores éticos estavam desvirtuados...

396 Chegou cedo em casa e deu de cara com o síndico do edifício dela! Sobre os barulhos da noite? Prometeu gemer menos e fechar melhor a janela.

395 Era um momento de intensa paz, haviam agulhas espalhadas nos pontos vitais, as moxas deixavam no ar um cheiro de woodstock limpando canais!

394 Era cruel quando colocava a lingerie da mãe em cima do peito peludo, com pose de coelinha da playboy pagava o mico em troca de troco graúdo.

393 Endividado em suas carências afetivas, buscou refúgio em uma rave lotada e barata, encostou em uma aqui, em outra ali até se apagar na mata!

392 Como poucas sabia que não devia insistir com palavras, pagou a conta e a levou para casa decidida, só não contava com o gelo na despedida.

391 Com aquela cor azul banana e o olhar de macho Delta em transgênero jeito, ela chegou a conclusão de que ciúmes era só uma falta de respeito!

390 Em solidão, criou ao redor de si asas de uma disparada de lendas e verdades de poucas cores: só para não dizer que não falou das flores...

389 Atrás de tua pista solteira, em clínica de filme noir, por onde encilhas meus demônios, que em psico-matilha, visitam teu ventre em fieiras!

388 Passo tinta em teu retrato, como fiz com aquele quadro do Chê, crio uma natureza morta, sem brilhos, sem vida, tudo que me alimento de Você!

387 Derrubei nos olhos a fantasia de tê-la ao lado, no arrepio de tuas cochas ao toque de minha mão atrevida. Hoje fujo deste olhar atravessado.

386 Afastei-me dela conscientemente, horas de ausências a fio, sem a sua presença, o coração foi acalmando e sendo tomando por um intenso frio.

385 Há momentos que me sinto dando milho para cobras pensando alimentar galinhas, a bicada deixa marcas duplas imperceptíveis à minha cegueira.

384 Torto, fiz Você em poemas e imagens. Solto, brindei Você nas noites vazias. Louco, mandei 17 mensagens. Morto, só obtive respostas frias...

383 Era a caricatura viva de minhas maiores loucuras, chegou tão depressa que nem vi passar, parecia intensa e se fez lixo ainda em carne crua.

382 Não havia mais do que uma sensação de vazio, sem gosto, sem perfume, o morno da manhã condensou a paixão no sujo dos teus vidros quebrados.

381 Não quiz assustá-la com minhas mãos frias sob o avental. Depois disto foi como uma geladeira aberta gastando energia em crime ambiental.

380 Ela é sentinela de minha história, memória bela que dela me faz prisioneiro, com desejo inteiro, intenso e denso como se fosse o primeiro.

379 Molham-me suores e lágrimas, côo desejos em páginas, o que resta é o mosto de um rosto que sem tatuagens ou mágica embriaga-me em lástimas.

378 Amor, paixão e dor em terno, trinca nas mãos de espantalho, torto em sua missão vã de afastar asas de qualquer emoção.

377 Tua cegueira é um inconveniente haraquiri: interessada no status quo existente finge não enxergar que meus olhos suicidam-se cegos por ti...

376 Na falta de teu carinho tomo um sorvete de queijo com creme de goiabada, sem tua atenção como chocolate a vontade: assim compenso a saudade!

375 Ela se foi, a semana, curta como minisaia de puta, vazia de surpresas como sutiã de freira, improdutiva de tanto criar besteiras.(como esta)

374 Sou capaz de contar estrelas desconhecidas, em lágrimas perdidas sei seguir cometas raros e em devaneio cego achar o teu olhar mais claro.

373 A tarde passa como contas de rosário em dedos de ateu. Meu mundo interior encolhe em viagem vã: quero o amanhã do amor que hoje não é meu...

372 Lembra aquela vez que fui ao parque? Após o décimo nono loop consecutivo na montanha russa esqueci completamente a ansia que tinha por Você!

371 Há vida no meio de tanta ausência. Uma lacuna aberta no vácuo da saudade, me fêz eternamente atento por alguns instantes de inconsciência...