Miro 26.09.2010
Em disparada
Vivi minha vida
Lembrando sempre
de Você
A tua imagem forte
O som de uma queixada
Acima da voz do público
Que por entre fantasmas
Barras e chuviscos
Aparecia de repente
Em branco e preto
Na televisão.
Teu ausente foi tão presente
No vazio dos noticiários
Até que um canal de notícias
Trouxe-me teu aniversário
Setenta e cinco anos
Quarenta afastado do mundo
Com barbas e cabelos brancos
Em uma entrevista rápida
Sobre um vôo
De solidão.
Antes deste encontro
Ouvi boatos e contos
Torturas, fugas, o exílio
Paranóias em silêncios
Histórias da Revolução
Confesso que meus olhos
Ficaram cegos
Em vão.
Com lentes distorcidas
De fortes graus imprecisos
Construi meus pensamentos
E acreditei no que ouvi
Cheio de preconteitos
Ante a tua
Decisão.
Por que se tornar eremita?
Por que tamanha exclusão?
Longe de mídias
De eventos
Dos ventos de qualquer
Confusão?
Não mais contacto
Sem risos ou escritos
Sem flores, sem "Aruanda"
Um exilado das dores
Enquanto em meu canto
Choro a falta de cordas
E dos acordes
Do teu violão.
Sem carta, sem notícias
Nem um som público
Só sinfonias reclusas
Será isto covardia?
Algum altista sinal?
Ou entre todas a maior
Desilusão?
Voei em caças mentais
A caça de tuas asas
A cata de tua
Razão.
Como viver sem ela?
Igual aos antigos quartéis?
Você sabe que ainda hoje
Lá na igreja dos Homens
A ladainha no coro
É a mais pura
violação!
O teu destino distante
A tua sina voluntária
Onde ficaram tuas frases
Sempre tão afiadas
Como espinhos cortantes
Diretos lá do
Sertão?
Busquei no tempo tuas rimas
E nas "Terras de Benvirá "
Encontrei o meu nome escrito
E em um dos teus sobrenomes
Uma coincidência
de irmão.
Claro que são só meus filtros
Dando cor à minha procura
Na viagem despretenciosa
Em tua discografia
Querendo o som dos teus sons
Algo além da entrevista
Uma simples
Inspiração.
Acabei me fazendo complexo
Confuso no próprio escrito
Prolixo em minha rima
Complicando a
Criação.
Depois de te ouvir sereno
Falando de tuas escolhas
Afirmo que ainda hoje
Elas ainda estão longe
De meu pleno entendimento
Mas não de minha
Compreensão.
Foi muito bom saber
Do lugar onde te escondes
Que ainda tocas violas
Que nem tudo era verdade
Que criaram muitas mentiras...
Que muito simples
E discreta
Era a tua
Intensão.
Comemoro o fim teu exilio
Com respostas que nunca virão
Sei que nele não há:
Culpas e arependimentos
E aquele "quem é homem
não chora"?
Já não tem mais validade
Em minha humana
dimensão.
Chorei ao vê-lo de volta
Quiz ouvir a tua versão
Renovei esperanças perdidas
Mesmo que tenha sentido
Que ainda carregas tristezas
Em teu olhar retraído
Sempre em busca do
Chão.
Será que estás mesmo triste?
Será que estás mesmo só?
Será que ficarás "mal com Deus"?
Eu só quero em desejo proscrito
Que não sejas um morto-vivo
Um patriota sem
Perdão.
Eu quero mais do que lembranças
De um evanescente Vandré
Entrelaçado nas fibras
Como um "Rei mal coroado"
No meu velho
Coração!
Lisboa e eu
Há 5 anos
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