domingo, 23 de dezembro de 2012

Calendário

Miro 23.12.2012

Desato o destino vadio e hilário,
quase uma pulseira do Bonfin
com tantos desejos desbotados
como saia da era de Aquário!

Diante da soleira bíblica do fim
em dois mil congelei o meu diário.
E agora pelos Maias abandonado
sobraram pedras no caos lendário!

Quero voltar a viver sem cuidado
feito gato fugindo de um mastim
a boca livre dos vetos do jardim.

Nos riscos vazios do calendário
vou saltar do organizado armário:
e fugir dos falsos dotes querubins!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Luto Antecipado

Miro Belo Horizonte 14.12.2012

carrego comigo as tuas dúvidas
como um álibi dos maus achados
tratando de cozinhar os teus ciúmes
num fogo lento de lenha molhada

lavo minha alma com as lágrimas
que saltam dos olhos no prazer
peneirando tristezas no volátil
em noites que evaporam solidão

e quando volto solto em lucidez
trocando consciência por miúdos
o instinto me leva tonto até Você

desde o bar até a casa da viúva
que se põem em luto antecipado
e fantasia a morte dos lençois

Banho-maria!


Miro 19.12.2012

Não tenho interesse em sonho
que não faça parte da realidade
que na Lua instantânea do dia
fique escondida feito estrela...

Não quero mais qualquer fantasia
que escorra da mente sem liberdade
prefiro o carrasco do quieto
se o preço é para não tê-la...

Não vou reinvestir no devaneio
que sopra contra o concreto
e torna impossível a alegria...

Nem vou me apaixonar tristonho
por musa que marina os arreios:
e me faz sapo... em banho-maria!


Casulo

Miro Belo Horizonte 14.12.2012

Volto correndo ao meu abrigo
onde me escondo da felicidade
fico quieto, paralisado na muda
querendo que penas virem asas!

Sinto o confortável de um ninho
que me afasta da via frustração
e tece-me ao redor o edredom
que alisa cheiro, desejo e sabor!

Um casulo de intenções castas
que alimenta crua metamorfose
numa hipnose de finas letargias…

Sabe lá se algum maduro novo
como um ovo petrificado e só
possa inventar… outros pecados!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Cinquenta e Um

Miro Ouro Preto 15.12.2012

Uma velha senhora aparece na janela
traz nas mãos um saco de pano cinza
que de tão usado parace ter
cinquenta tons...

Na ladeira em frente, o Pub ainda vazio
guarda entre os seus utencílios antigos
gargalhadas soltas que em Baco compõe
cinquenta sons...

As pedras usadas pela Inconfidência
sobem lentas em um ângulo à sombra
de cinquenta graus...

A senhora remexe a mão no velho pano
Seríam confetes? Sorrindo tira do saco
um único tchau...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Espera

Miro 7.5.2012

Espera um pouco
que a vontade vem
ela vem de trem…
um cargueiro no cio
bufando vazio
na serra de tua libido…

Espera mais um pouco
que o desejo tem
pontes imprevisíveis…
respira o ar escasso
no pequeno espaço
do intenso e proibido…

Espera um pouco mais
por um encanto além
do teu vagão escuro…
para que de graça
teu corpo se faça
solto dos trilhos…

Espera só... um tanto
que a saudade é um bem
que aparecerá mal criada...
feito dormente sem dono
queimando teu sono
com um fogo sem brilho...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Bússola Itinerante

Miro 12.12.12 (às 12 horas, 12 minutos e 12 segundo)

Minhas presas de aço
são prisioneiras de tua pressa
quando rápida e rasteira 
larga me ao largo dos constantes…

E nos rastros de casta carência
paraliso-me em teus passos rápidos
que cria ondas de delicado suor
na forquilha dos teus quadriz…

Finjo que não quero ter desejo
e por de traz do velho rayban
sigo tua bússola itinerante...

E no vai-e-vem de tua valência
farejo teus pólos sem Norte
levantando de leve… o meu nariz...