sábado, 30 de abril de 2011

Ingênua Sanidade Social

Miro 30.04.2011
pense na pobreza como uma faca
cortando meu coração pelos campos
nas favelas em volta das fábricas
em procissão sustentando que santo?

sinta o arrepio do frio das crianças
que sem expectativas vivem de vento
fugindo de alguma dura esperança
que só traz a dor como sustento...

olhe como o craque trata as bolas
nas ruas com seus meninos bandidos
quem os baniu da pública escola
para uma sina de coito interrompido?

atente para o possível do sonho de Chê
liberdade por meio de uma luta armada?
ou o que dela ainda existe dentro de Você
em ingênua sanidade social amordaçada...

Para Fernando, último codinome de Chê Guevara na Bolívia 9.10.1967

http://www.youtube.com/watch?v=jppkff5mk34&feature=fvsr

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dor na Decisão

Miro 29.94.2011 (... de um guardanapo velho...)


Há mais dor na decisão,
que na indecisão sem cor...

O coração se reparte,
parte é pleno direito,
a outra fica a la carte...

O tempo se esvai sem paz,
só frustração traz...

Escolher só um pedaço
é perder a outra metade,
ganhar o semi-espaço...

É morte plena de vida,
uma folha dividida...

Não há nenhum jeito
de colar o lado vazio
que gruda dentro do peito!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vazio

Miro 20.04.2011

O que faz um poeta
quando não quer
recorrer
a uma rima?

Quando por baixo
não consegue
sequer olhar
para cima?

Quando deseja
inverter o tempo
e o espaço
que o legitima?

O que faz o poeta
com seu agora
em eternidade
mínima?

Se o mau humor
rompe-lhe o peito
em lances
de esgrima?

Se em sua agonia
devora o vazio
que a vida
lhe intima...

terça-feira, 19 de abril de 2011

1167 a 1256 no Mikropoesias do Twitter

1256 Justo agora que eu sonhei que queria Você, Você me acorda para uma realidade difícil de entender: dizendo-se presa às frestas do meu querer.

1255 Com base em inúteis medos, guardei o melhor dos desejos ao conter-me ao redor de teus fúteis segredos...

1254 Verso frustrado, incompleto, ingênuo de tão rico...

1253 Caminhos paralelos de distantes ritos, possibilidade única de existir... próximo de algum inacabado infinito!

1252 Caldos de desejos deixados rasos em louças gregas. Hoje são pratos quebrados a esmo nos cascalhos de uma gostosa via, por acaso, negra!

1251 Deletei teu número da memória e ele do nada me aparece como uma velha e inacabada história...

1250 Uma pequena adaga de luz escreve no céu fantasiosa corte, deixo-te rimas roucas, singelas, respostas ao teu mudo "Quiz"? http://vai.la/1XDJ

1249 Uma Cássia canta sob o corte moicano, com dois Sóis brilhando nos brincos em aros. Em acordes Reis, o violão pula órbitas de acordes raros!

1248 Afogado, sem lanterna ou óculos, na cara só a lama dos paras, náufrago no tenso de teu varal, após navegar impreciso o nosso romance ideal!

1247 Disfarço amor com ciúme, ao invés de alegria mostro um sorriso de tristeza vazia, no cume das vontades enterro todas as minhas fantasias...

1246 Um velho amor atiça em minha boca um gosto de podres sossegos e com passos trôpegos rasgo a sola do cansaço, já sem os pregos dos apegos...

1245 Que tal tomar um banho de rua? Ensaboar-se com o orvalho dos vidros em boêmia e depois se secar com a luz que brisa de alguma fantasia Lua.

1244 Deixo-me ficar assim como rabo empurrando cachorro para seu dono, de um lado para outro atrás de algum carinho teu antes que chegue o sono!

1243 Com raiva de tanto ficar preso nas próprias asas que não me deixam buscar teu velho ninho, vôo alto até ficar sem ar, completamente sozinho!

1242 Nos contornos de tuas orelhas sussurrei desejos que não conto nem ao analista, assustei teu senso comum com um prolongado querer vigarista.

1241 Posso admirar a eternidade de tua juventude no que vives agora, tu poderás ver minha expectativa como um barco afundando num mar de foras.

1240 Sozinho entre os arcos da Lapa, vendo a Fundição Progresso e o Circo Voador, lembrei que ali foi última vez que vi meu inesquecível amor!

1239 Coloco em tuas orelhas a fome indecente de minhas vontades, derramo em teus ouvidos pequenas gotas que colhi em lágrimas de saudades...

1238 Amor meu ou teu? O dedo em V: amor e paz! Amo Você como um guerreiro ateu. O que ele me traz? Um amor que nunca encontrará a tua paz!

1237 Percebo na brisa fria que levanta minhas cortinas, o teu distante cheiro, como um gozo escorrendo no ralo do banheiro sem nenhuma cortesia.

1236 Quero ver o mundo através da janela dos desejos, mesmo que isto seja irreal como um sonho de beijar as margens sagradas do teu Rio Tejo...

1235 Enrolada em um croisant, uma paçoca de leite, condensados deleites com o gosto de uma nova manhã dissolvendo-se lentamente em tua saliva sã.

1234 Já sei que tatear o mundo em busca de tua pele é como tocar um deserto quente: nas unhas escuridão e o silêncio inconsistente da solidão...

1233 No concreto onde enterro arrependimento, sepulto também o trato abstrato de tudo que por Você fiz: aqui jaz uma fantasiosa paixão infeliz!

1232 Se o que vejo está modificado pelo insano de minha inconsciente cegueira, o mundo me parece harmonioso, mesmo que de uma alienada maneira...

1231 No vazio envidraço tua imagem fugidia como miragem, formando vitrais nus, onde com cinzentos batons demarco tua boca em inexpressivos tons.

1230 Sem olhos para te ver vôo as cegas ao redor de fantasmas lampiões, do rápido ao lento, até o zero, num cemitério esquecido de velhos piões.

1229 Quando a lente de velhos amigos nubla minha retina por questões de lealdade cega, uma lágrima cristalina limpa o que a realidade me nega...

1228 Por vezes vejo através de minhas dores, outras em cortes de saudades, soluços de tons de paixões que nem sempre foram amores de verdades.

1227 Meu olhar por mais puro e ingênuo que seja, é mediado pela minha experiência, que acaba descolorindo com ela qualquer coisa que eu veja...

1226 Penso em Você nua, vestida só com tuas pintas, as que conheço, as que escondes, olho tua pele com olhar de sempre, desde o nunca até o onde.

1225 Larguei de fumar por falta de prazer no vício, a bronquite cada vez pior, um sufoco livrar-me da dependência química e dos hábitos ao redor.

1224 Olho através da fechadura do tempo, busco entender o segredo de tuas trancas, mas uma outra chave negra abre fácil as tuas portas brancas!

1223 Pular o muro menino, a bola suja na roupa do varal, paralisar-se ante o vulto feminino na janela martelada do banheiro em seu banho sensual!

1222 Não havia nada a temer, a não ser o cachorro do vizinha, sua minissaia azul-piscina e o velho que montava guarda escondido antes da esquina!

1221 No centro de minha coragem o olhar ingênuo de menino, pronto para qualquer armadilha da vida com a espada sem corte da inocência perdida...

1220 O medo corria ao redor como uma matilha de lobos, as sombras moviam-se, o vento compunha vozes, deixando-me alucinado, apavorado e bobo...

1219 Dos mares... as vieiras, se em coquiles ao forno, o melhor sabor! Só não melhor que o gosto de uma antiga amizade de um diácono e escritor!

1218 Nagasaki, Hiroshima, Chernobil e Fukushima: no entorno dos mortos o fel dos jilós, um nó abusivo de íons, marés de cipós.

1217 A órbita elíptica da Terra ao redor do Sol é quase um círculo, a distância em milhões de km entre pólos é tão pequena como o nosso vínculo!

1216 como cachorro de engenheiro rôo o osso através de contas de ração que tu me colocas na boca toda vez que me pede para te latir com o coração

1215 Nem a lágrima incontida lava a retina acostumada com tua imagem fixa, travando a memória em obsessão escrava de uma paixão prolixa...

1214 Confundo fundo e a forma que se deforma em minha mente, o real se completa com o que projeto de fumaças antigas em significados permanentes.

1213 Olhar e não ver o óbvio crescendo como um Sol nascente é assegurar a mente em acomodação, mantendo-se firme no cais da noite remanescente...

1212 Quero enxergar meus pontos cegos, não os que sei não distinguir, mas os que preencho com algum conteúdo interno e que parecem não existir...

1211 Era minha rinha e musa mais errada, vida virada, rima torta, um demônio na cama, uma peste na relação, bolinava meus versos até a exaustão.

1210 Quero balançar tua saia e cortina, arrombar tuas portas, visitar teus incômodos cômodos íntimos até ser expulso pela tua saciedade morta...

1209 Não há Lua que sustente minhas paixões, ela some em ciclos ou entre nuvens, enquanto meu coração acelera noite e dia em loucas confusões!

1208 Com sede abri o coco verde de tuas águas sensuais, com fome senti a polpa de tua carne branca sob a língua em movimentos helicoidais...

1207 Tiro meu nariz de palhaço da tela do teu cinema mudo, mudo tudo, de roupa, de cidade, de hábitos, em regime de abstração de tua imagem nua.

1206 Um cheiro ilegal de fomes antigas cruzou o faro de meu nariz. Aspirei com desejo os mínimos sinais de tua tara dispersa, flutuante no ar...

1205 Um dia acordarás apaixonada sem estar ao meu lado me desejarás bom dia, banharás teu corpo por mim e louca abrirás a torneira de água fria.

1204 Quando me lembro que esqueci de te esquecer, não me lembro de tudo que já sofri, nem de como é ingênuo este modo de me auto iludir...

1203 A alma em ressaca pede água por mágoas destiladas na madrugada, onde o conflito estabeleceu-se dono do ritmo de um coração em altos agitos.

1202 Minhas súplicas foram lidas e esquecidas num mar de dualidades de uma musa idealizada, dividida que nem sabe o grau que mexe com minha vida.

1201 Há caos de ordem implícita na paixão e só depois dele pode se recomeçar, arriscar organizar a bagunça do coração.

1200 Onde está a estrada que me leva até a tua alma? Onde o mapa dos tesouros dos teus desejos de mulher? Quem curará a paixão que virou trauma?

1199 Um tornado Tony numa BR3, uma tônica lembrança de um festival de anjos e demônios, diziam que era a veia que levava o pó até os neurônios.

1198 Um mosaico de janelas compõe meu olhar voyeur no edifício vizinho, são tantas possibilidades vadias, ainda mais com o grau de minha miopia.

1197 Vivo acreditando que Você um dia será minha! Coisa de posse mesmo! Eu teu dono mandando Você fazer tudo! Até lá serei o teu criado mudo...

1196 Um dos momentos mais preciosos é o clic do nosso olhar quando a amada inicia a oferenda de descer sensual sua calcinha de rendas...

1195 Errei o alvo e acertei a mosca branca que voava ao lado, foi um golpe de sorte, ela ficou comigo mesmo não sendo para ela o poético recado.

1194 A fila não anda, tem pelo menos uns vinte patetas na minha frente até chegar em Você, deste jeito quando acontecer será um caquético querer!

1193 Visitei como um beija-flor tímido o local vital de tua rara beleza, nele selei minha vontade e quis descobrir o segredo de tuas tristezas!

1192 Varri para debaixo do tapete todas as paixões mal resolvidas até que um dia ele saiu voando espalhando no ar todas minhas loucas fantasias.

1191 Um cheiro de puta no cangote delatou as escalas entre o trabalho e a casa, no banho não lavou o pescoço do perfume barato das quentes asas!

1190 Parecia fácil, as grades sem trancas, abrir tua porta como um ladrão. Foi não! Um imenso iceberg táctil esperava-me dentro do teu salão...

1189 O depois ninguém sabe, o cerne da questão é que se não fizesse, estaria para sempre ligado no que não foi experimentado. http://vai.la/1UPS

1188 Lembra a primeira vez? Não foi fácil, estávamos meio bêbados, apaixonados, tão rápido, sem jeito. Você com sono perguntando fizemos direito?

1187 Mascava tabaco de tanta idade, cuspia no chão cru da sala e com o olhar perdido porta a fora, falava do ontem com se fosse exatamente agora.

1186 Entre as pernas: fruto maduro! Um vai-e-vém de acordéom safado no dedo do amado! No ventre a cumbia espuma deleite e espera o estilete duro!

1185 Quando a vírgula quis ficar por debaixo do ponto; a reticência ficou vermelha... a barra pesou entre"aspas"na exclamação de um ciúme tonto!

1184 Uma dirige um importado, outra o nosso País, o Big Brother é de uma Sister pimenteira, não há espaço macho nos brasis: a DeuSA é brasileira!

1183 Para liderados cueca de aço, para o patrão cueca de carvão, assim o cheiro não infesta o espaço e na hora da chincha a equipe tem proteção!

1182 Hoje estou contente com o que não vai acontecer: mais uma vez não vou te ver! Vou ficar comemorando minha solidão em um bar até te esquecer!

1181 Estou me dando um desconto, daquele tipo peixe urbano, de cinco mil por cinqüenta. Quem agüenta tamanha promoção de um solitário ser humano?

1180 Não sou mais engenheiro, tirei a pilha da calculadora, virei poeta de espelho de bar, é lá no banheiro que eu abro a tua caixa de pandora...

1179 Para tocar um velho coração vagabundo será preciso comprar uma radiola, aquela com agulha e que gentil tira sons dos sulcos negros no vinil.

1178 Dia cinzento, a alma tece o luto pela perda de tempo do próprio dia que não quer ir, reza em tédio pelo corpo cansado de tanto dormir...

1177 Esqueço que existo, me mato para fazer Você nascer em mim, é como se eu não quisesse ser no teu começo e Você fosse o início do meu fim...

1176 Vende-se um sentimento pirata, copiado com muito cuidado e atirado num pano de um comércio ilegal, se comprar guarde ele como se fosse real!

1175 Fiz no braço um ying-yang para selar nossa amizade, na semente do branco o negro do teu olhar e na parte negra, o branco de minha saudade!

1174 Música bêbada de fim de noite em boite de quinta categoria, feita por fantasmas que voltam da tumba para saciar-me com alguma nostalgia...

1173 Coragem para dizer que quero é só viagem! É na ação que o desejo desenha alguma tatuagem que desvendará a lenda grega que trava o coração.

1172 Caço em tuas costas arrepios e fontes de um prazer mudo, sigo pelos teus pelos mais sensíveis, do teu pescoço aos teus pés, atiro em tudo.

1171 Você está na minha cara, na minha voz, nos meus versos, nos vãos dos dedos, no pior do meu amor, no melhor dos medos, um universo numa noz.

1170 Respiro pedras de uma saudade fóssil, no barro indócil do coração as pegadas dos teus saltos em retirada após nossa violenta paixão...

1169 Hoje acordei lesado, o nariz esfolado numa piscina, com um nó na garganta, por ter mergulhado nos olhos de uma menina

1168 Tambores da África transpiram Orixás e Exús, giram ao redor saias de pomba-gira, na cabeça teu corpo em pecados nus...

1167
Faça a conta de quantas taças entre tantas danças nós demos conta entre tantos nós... nossos outros nós...

domingo, 17 de abril de 2011

Triste, Torto e Louco

Miro 14.12.2008


O meu cantar é triste
é feito um canto na solidão
é como pranto sem perdão
e esta dor insiste
como um aperto no coração
uma moto-serra sem noção
ele é uma ferpa em riste
é um quartel em polução
amotinado de paixão
e que jamais desiste...


e se ele é triste, tem porque
jamais desiste de te querer
o triste insiste sem Você!

O meu cantar é torto
falo de um sonho abstrato
servido frio em sujo prato
que é só desconforto
carência por qualquer trato
inconsequente e ingrato
e que já nasce morto
como a traça em teu retrato
um rompimento de contrato
por não atracar meu porto...


e se ele é torto, é sem porque
como um desconforto no querer
meu porto é morto sem Você!


O meu cantar é louco
e me mantém em desatinos
transforma-me num menino
acabrunhado e mouco
deixa-me um gosto de tanino
a glote em dentes felinos
e o meu verso rouco
esconde um luto peregrino
deste canto sem destino
maluco sem os teus poucos...


e se ele é louco eu sei porque
é que sou maluco de querer
o pouco mouco de Você!


Mudo Quiz

Miro 21.02.2009 Rio de Janeiro

Uma pequena adaga de luz
desenha no céu um corte
deixando entre as estrelas
uma extensa névoa cicatriz!


Simbólica dor que me reluz
compondo no céu um suporte
de noite a saudade é mais bela
mas a cara disfarça, má atriz!


Trisco brilhante que conduz
sentimento em canto de morte
sem esperança de ainda tê-la
uso terno luto em risca de giz!


A tristeza à solidão me induz
em contraste ao brilho da sorte
pintando no céu de negra tela
a impossibilidade de ser feliz!


Coloco nos olhos a dor capuz
cego é o fio da arma sem norte
que acende o pavio de tua vela
no rosário novena da meretriz!


Águia liberta de intensa cruz
espalho sêmen a quem o aporte
meu Peter Pan sem Cinderela
entorna taças por motivos vis...


Uma pequena adaga de luz
escreve no céu fantasiosa corte
deixo-te rimas roucas, singelas
respostas ao teu mudo "Quiz"?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fukushima

Miro, 9 de abril de 2011.


Fukushima 
Chernobil-Nagasaki-Hiroshima
no entorno dos mortos o fel dos jilós um pó abusivo
de íons mornos no corno dos hortos marés de cipós um nó velho vivo
revirado e torto absorto contorno
urânio em filós ebó radio-ativo
brilho no forno
suborno conforto
um rastro de dó
dominó reativo
atraca no porto
aborto em retorno

no entorno dos mortos
o fel dos jilós
um pó abusivo
de íons mornos
no corno dos hortos
marés de cipós
um nó velho vivo
revirado e torto
absorto contorno
urânio em filós
ebó radio-ativo
brilho no forno
suborno conforto
um rastro de dó
dominó reativo
atraca no porto
aborto em retorno
Hiroshima-Nagasaki
Chernobil-Fukushima...