domingo, 11 de março de 2012

Nau Frágil

Miro 11/03/2012

As velas ainda estão amarradas
guardadas no convés
perto do que ainda convém
e dos restos das rezas
derretidas no gelo
de julgamentos partidos

Os solitários mastros balançam
com as marolas inconstantes
em busca de algo que conste
sem visitas à vista
e além do horizonte
só há um céu em solidão

O tombadilho geme com seus vazios
livre das cores pasteurizadas
rangendo leve em tons pastéis
contraindo-se no porão
em meditações abissais
tateando o inóspito mar

As âncoras agora sem função
criam asas ao imaginário
rompendo modelos mágicos
pondo fora segredos
roendo as próprias cordas
em continentes perdidos

O leme parte em sexto sentido
remando em círculos imperfeitos
criando falsos impérios
territórios tênues
em fugaz controle
de qualquer direção

O salva-vidas está a salvo
vencido pela falta de escusas
preso ao casco corroído da escuna
que agora singra na vertical
em derradeiro ato
de despedida do ar

O timão roda anti-horário
impulsionado por mãos invisíveis
que regridem ao inverso
por memórias amareladas
em apegos amarrotados
aos raciocínios conhecidos

A escotilha está semi-aberta
embassada pela auto neblina
com gosto de nebulosas
que transforma em cinzas
a brasa fria que a deriva
não sossega mais a pressão

Uma bússola bóia solitária
com hálito acre de desfecho
e um último golpe desfere
antes que os resquícios
sejam elos perdidos
da cadeia alimentar

O sextante jaz em liberdade
ao sabor do vai-e-vem submarino
aprendendo a ser submerso
como o frio dos mistérios
e a miséria subjacente
dos gozos mal resolvidos

Nenhum comentário: