quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Mito do Lago dos Cisnes

Miro 11.02.2011

Nas pautas de um Tchaikovisky
um balé de dualidade mórbida
agasalho de um iceberg febril
abraço do bonito e depressivo
com o opressivo feio e sedutor
de um cisne mais que perfeito
rarefeito e raro de tão denso
no intenso comum dos estreitos...

A esfinge interna a afrontar
com enigmas de tez insolúvel
trazendo cômodos em desatinos
na complexidade tão dinâmica
de um adormecido ego vulcão
que nos traumas não foi capaz
de integrar o caótico no saudável
nos conflitos que geram a paz...

Angelical calor no frio dos infernos
nos calos insustentáveis dos pés
pés que em pontas são pás no chão
em um só tempo já estão nos céus
na negritude de um cisne proibido
ou em um cisne branco congelado
algema e liberdade, prazer e dor
nas mesmas penas aprisionados...

A catarse dos lençóis da libido
na masturbação edipiniana
que prende o pênis libertador
atraindo derrotas transitórias
na útil catálise por alguma fama
na exaustão entre o não e o sim
o suor em coma de dez mil horas
e hematomas até o exímio fim...

O roubo de pequenas coisas
seus cleptomaníacos talismãs
matéria prima cara e insana
mistura realística de paranóias
com esquizofrênicos mestres
de prima-dona em incubação
figuras parentais encarnadas
afinando o certo da imperfeição...

As tentações homofóbicas
a heterossexualidade incolor
os cacos de narcísico espelho
cortando os véus da frigidez
um arrombar da artéria vida
passaporte do sangue puro
incontrolável de tão visceral
sujo de tanto intento seguro...

A coceira indomável nas unhas
o sucumbir a íncubos e súcubos
os medos sem vãos nos dedos
até ir além do enredo esperado
em posturas jamais executadas
uma puta fiel de cruel dignidade
irreverente ao banal do clássico
untando o efêmero a eternidade...

É o mago lógico de um mito lago
onde um cisne preto-e-branco
em violenta explosão da ternura
flui no ar como um anjo suicida
siamês de um lúcifer abençoado
sob os aplausos de contras e prós
para iluminar o divino da sombra
o laço humano que aperta em nós...

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