sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Último Gole de Decisão

Miro 24.10.2010

Quando a terra seca, sem ter sequer o úmido do orvalho, agasalhou o tempo em torrões dando aos pés a sensação de que o Sol tinha sido por ali enterrado, saiu o homem do seu pedaço e num abraço de estrada deixou para trás o pouco que um dia quase foi seu.

Nos olhos, nem lágrimas, nem sono, só a poeira intensa carregando o quente, com as narinas arfantes ele buscou no ar algum cheiro de rumo, um sinal diferente de um Sol a prumo, algo que indicasse como ir além do a esmo, mesmo antes que o pó em definitivo fizesse parte do seu olhar!

O terço, a Bíblia, o Santo rasgado pelo tempo, eram pesos extras em sua pouca bagagem, eles guardavam uma fé que já não mais lhe servia, foi quando ele deixou de olhar sobre o cansado dos ombros e encostou ao acaso suas últimas posses, depois em um ato de suprema renúncia, comeu as folhas finas do livro sagrado, acalmando com parábolas seu estômago em vazia revolução.

Não havia mais nada a fazer, nem ir em frente, nem voltar, foi só deixar o corpo minguado e sem forças deitado no colchão improvisado de pequenas pedras pontiagudas ao lado da estrada e assim, pronto, esperou a morte vir ao seu encontro, já que em um último gole de decisão, escolheu que jamais, por mais ais que sentisse, atrás dela... iria correr!

Um comentário:

Maria disse...

há que se ter um pouco de dignidade, certo?

beijo pra você, querido rei do bailado cucaracha!