quarta-feira, 23 de março de 2011

Vesg ô|ô

Miro 29/09/2006

Vesgo, olho o mundo com dois olhos...
Um olho de fotógrafo e outro de poeta!
Como fotógrafo capturo o imediato vivido
Como poeta busco o eterno do momento
Em cada foto um instantâneo se eterniza
Qualquer breve poema o eterno se retrata
O infinito se torna uma imagem tolerável
E o iminente orbita na palavra imutável
Não há como discernir o outro deste um
Dois ou um: invertem já o que é depois
Confundo as duas imagens além da retina
O aqui e agora se quebra no além constante
E o distante se volta para um perene aquém
Onde do nada é parido o todo em resto amorfo
Que natimorto é sepultado pela objetiva lente
Se as rimas batizam a extrema unção da fantasia
As fotos gravam lápides no perpétuo trato do real
Criam jazigos de rápidas poses no então latente
Até que a lente verse o fim que em mim renova
Carpideiras vozes evocam o extinto instante
A luz que atravessa o fino diafragma do peito
Queima o filme das rimas mal versadas
Na face do fotógrafo cai ininterrupta lágrima
Em sépia, o poeta enxuga algum choro rápido
Um canhoto viso revela-se em meu direito caolho
Zerando cruéis extremos bem no meio suportável
No ocasional enterro de uma foto poematizada
Há junco de cliques dissonantes em poesia emulsionados
Como miragens marinadas na mira de um verso mirolho
Que no estrábico zinabre de um poema fotografado
Vira zambaio, zerê, zanago... um verso único
num universo zarolho!
ô|ô 

Dicionário:
Zambaio = zambaio = zanago = zarolho = vesgo = mirolho = estrábico
Junco = chibata
Dobra = inverte
Sépia = cor de foto envelhecida
Miragens marinadas = ilusões sedutoras temperadas
Canhoto viso = errado aspecto

Um comentário:

Isabel disse...

como se olha o mundo en forma tridimensional? poeta/ fotografo/engheneiro. Extraña y especial trilogia