terça-feira, 6 de outubro de 2009

Espelho

Miro 26.04.2009
Percebo tristezas que meu espelho cura
Um brilho de noite no próprio olhar
Meu cabelo em desalinho emoldura:
Angústias, saudades, dores, ansiedades!
O hálito seco prova o deserto entre nós.
Nem um oásis de esperança remota
O Sol nos olhos o sonho boicota
Nem um sinal além de areias e pós.
Nem um som a não ser o do coração
Que apressado inventa miragens tuas
Névoas evanescentes, embaçadas e nuas
Em desenhos rápidos na condensação.
Da ferrugem do espelho velho no banheiro
Saem Saaras, Atakamas, sertões nordestinos
Os mundos paralelos que nos nossos destinos
Convergem à metade, algo que me é inteiro.
Eu do lado de cá em paixão desmedida
Pondo brilhos de gel na minha solidão
Você do lado de lá em tua meia vida
Encaracolando lenta a tua depressão.
Da torneira um pingo d'água avisa o dia
Dos olhos uma lágrima cai sem medo
Os dois se encontram em meus dedos
E escorregam para o negro ralo da pia.
Despeço-me delas em um último cadê?
Escovo os dentes, cabelos penteados,
Enxugo a pasta nos lábios ressecados
E parto para mais um dia sem Você!

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