terça-feira, 6 de outubro de 2009

Missa de Sétimo Verso à uma Póstuma Paixão!

Miro, 23 de abril de 2009.

Hoje eu te mato dentro de mim,
como se um mato fosse,
uma erva daninha qualquer,
um vegetal inútil,
praga de bulbo profundo
uma semente ressecada,
que não deveria ter nascido,
um broto verde
que com minhas lágrimas
não deveria ter regado,
uma árvore que não dá frutos,
que não serve nem como lenha
muito menos como barco
para as profundas águas
onde afundas em minhas mágoas!

Hoje eu te tiro de dentro de mim,
porque és só um vírus em peste,
que não presta para mais nada
além de amargar a garganta,
de dilacerar-me internamente,
de corroer minhas vísceras,
acelerar minha bílis,
com a qual te alimento
e faço crescer
teu narcísico ego,
um monstro delicado,
que se espalha perfumado
pelas horas do meu dia,
em nuvens de horror
em uma sexta-feira treze.

Hoje eu te apago em mim,
já que és só fantasia,
neura na minha paranóia,
companheira pata em psicose
desenho abstrato
de minha esquizofrenia,
loucura branda
que me faz possesso,
desvio lúdico
que me tem limítrofe,
de onde não me sustento
em tuas camisas de força
apertadas e invisíveis
e que não me impedem
de te escrever em cortes.
Hoje eu te desconjuro em fé,
como uma crença maldita,
uma religião sem sentido,
uma idolatria ultrapassada
fujo de tuas bençãos inócuas,
de tua água benta de esgoto
de meu mau hálito divino,
um fosso cresce dentro do osso
que teus dentes corroem,
enquanto meu sangue vivo
coagula em algum despacho
numa encruzilhada deserta
onde continuo penitente
rezando, rezando, rezando...
pelo infinito funeral deste amor!
Hoje eu sou o cruel assassino
de tudo que criastes em mim:
tua falta de atenção e carinho
a mão única de nossa relação,
tuas frívolas escolhas virtuais,
as mensagens que não me dedicas,
os teclados que te hipnotizam,
tua turma trancada em fechos,
teus peludos bichos em tua renite,
a insanidade mágica
de teus valetes e reis,
teu altismo digital crônico,
a depressão que cultivas,
nela sufoco sonhos de requinte
em que nunca mereceu estar.
Hoje eu te dedico minha luta
meus socos e pontapés afiados,
a minha insônia por Você,
refazendo com ódio
todas as noites mal dormidas,
atiçando minha ira
no vazio de tua ausência,
chutando baldes de esterco,
quebrando paus e pedras
derrubando cercas e barracos,
pela falta de sincronismos
de nossas vontades transversas,
cuspo para cima o asco
de te ver feliz com outro
em noites e noites sem dormir.
Hoje sou suicida em meu amor,
corto meus pulsos latejantes
com a faca enferrujada e pronta
do teu não sei... mas que sabe!
nele componho um haraquiri lento,
que fere na ferida já aberta,
mato-me na diferença sutil
de tua guilhotina indiferença,
salto desta forca que força
em me fazer infeliz,
deixando a lâmina fria
de teu olhar carrasco
terminar com um só golpe
em plena ágora fervilhante
esta livre e póstuma paixão!

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