terça-feira, 13 de outubro de 2009

Teus Líquidos

Miro 01.10.2005
Senti nos lábios o mel de tua saliva
Doçura quente, refinada e louca;
Fluindo leve da garganta aos dentes
Cometa livre no céu de minha boca.
Ao perceber em mim teu sangue ardente
Como um vinho raro em minha taça
Arrebentei as trancas do meu peito
Deitei-me em ti, precipitando em graça.
Senti na língua o óleo de tua concha
Temperando as sopas de tuas valas
Que foi servida em pratos quentes
Espalhando teu gozo em toda sala.
Depois lambi o suor de tua pele
Com trezentos fios de linho egípcio
Cobri teu corpo com meus machos pelos,
E sucumbi feliz num sono precipício.
Ao acordar vadio no dia seguinte
Ouvi do toalete tua cascata fina
Mas não percebi que os teus filtros
Queriam mais que uma rotina.
Aí veio um tempo de secura farta
Um deserto tosco de areias límbicas;
Onde minha cobra e tua lagarta
Sorviam ausências quase crônicas.
Por coincidência ou destino
Não descobri ninguém com tua química
Vaguei perdido em outros palcos
Até cruzar contigo em trama mímica.
Sentindo um no outro, outros perfumes;
A vontade foi de se cuspir em longa mágoa
E vomitar no outro a bílis do ciúme
Criamos raios em meio copo d’água.
Nosso fio gelado de olhar em faca
Arrancou de nós antigas lágrimas
Ante algo que não aconteceu de fato
Nos abraçamos loucos em uma nova página.
E a mesma lágrima que regou as chagas
Lubrificou a volta, pensando feridas.
Abrindo o espaço em imensas vagas
Se fêz azul o mar de nossas vidas.
Assim teu corpo recebeu minhas gotas
Como um Graal de ouro, aberto e ávido
Estrela concebida em forma de seis pontas
Movendo-se livre até teu ventre grávido.
E em teu seio o branco se fez leite
Com meu filho dividi teu gosto íntimo
Sentindo na boca dele igual deleite
De ser eterno náufrago em teus líquidos.

3 comentários:

autor disse...

você é intenso!!!
viajei na história desse poema!

Anônimo disse...

Parece escrito pelo Rigoberto, do Elogio da Madrasta, do Vargas Llosa.

Alba Regina Bonotto disse...

Força e dor misturados ao desejo de um amor revaldo e eterno, eis o que inspiram tuas palavras..