segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Hipertensão

Miro 11 de fevereiro de 2004

Fazer de conta que está quase tudo bem
quando por dentro a pressão me consome
e some com qualquer velho desejo insano
em hipertensão que ao peito me detona
tornando a vida um caldeirão sem água
onde um fogo diluído nas artérias ferve
silencioso e sem razão como impunidade
dando a impressão de uma calma ferida
falsa trama ante a alma que flamba rubra
onde cozinho tempo sem água ou temperos
desespero inevitável de insosso amanhãs
criando vazios em canteiro de resmungos
plantando tédio, mármores e murmúrios
sentindo o amargo de tantos vis remédios
posseiro de terreno cardíaco esturricado
onde o medo e a dor em par transitam
pisando no denso pó árido e sem húmus
com calos de muita novas impossibilidades
só não quero o sal de tuas claras lágrimas
nem páginas de consolo ou de auto ajuda
muito menos conselhos de terceiras penas
quero ficar com o lento do próprio desatino
até que do meu solo interno estéril e nú
brote alguma energia em total desespero
como aurora boreal que furta alguma cor
ou que do inusitado de uma paixão serena
transforme as forças internas que reprimo
em motivos para transgredir o status quo...

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