segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vela Anônima

Miro 14 agosto 2005

Ao vê-la anônima caminhar assim tão bela
uma silhueta africana em atitude extrovertida
emoldurada por uma delicada saia amarela
diante de tantos aceleradores em estilingue
parei meu carro muito além da faixa permitida
no espaço lento de teu andrógino swing.

Parei meus pensamentos num sinal que veio
com os movimentos tantos de tua aberta saia
no sopro quente de um Sol de caribenha praia
transpondo firme os lixos físicos do meu olhar
arrastando minha retina entornada no passeio
como um gigante trator de pás... Caterpilar.

Tu gingavas por entre os vãos da turba sonolenta
driblando a neblina do sempre e o ritual dos retos
prendendo meu olhar em desejos delinquentes
vindo da força sutil de tua dourada vestimenta
por entre os cortes formais de ternos penitentes
além dos grafites sujos nas paredes de concreto.

Molhei as asas na cadência de teus gestos hidros
estacionei em local proibido e em dupla faixa
na contramão gelada, paguei as multas da libido
sentindo algo inóspito... um tesão fora da caixa
e ao vê-la anônima fixar-me através do vidro
amarelou-se em mim qualquer teor pré-concebido.

Uma semideusa hermafrodita em casual esquina,
ardendo em rajadas de ventos, em vertical postura
uma vela anônima na laje fria de matinal loucura
luzindo fachos de hipnotismo por todos os lados
atraindo-me como indefinível sombra feminina
no amarelo esvanecente do semáforo fechado...

Nenhum comentário: