sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PEREGRINO 49

Miro 06.12.2005


01 Havia um tempo para ser gasto
02 Havia um espaço a ser ocupado
03 Não era questão de dinheiro
04 Algumas culpas, desafios e muitas dívidas
05 Nem era função de saúde
06 Mas a dor estava presente
07 E com ela a destilação de uma vida


08 Havia um caminho a ser seguido
09 Havia uma caminhada a ser esquecida
10 Cada pedra pontiaguda na sola do pé
11 Era uma dor que se tornava pó
12 Esvaziando a mochila da memória
13 Em novas pedras, tropeço a tropeço
14 Passo a passo em tantas histórias


15 Ainda havia ressentimentos antigos
16 E havia o apego às ilusões impossíveis
17 Uma porção mofada de dores e utopias
18 Atacando como pregos de procissão
19 Os calos em caos que dançavam nas meias
20 E se concretizavam em fome, sede, cansaço,
21 E numa velha doença: a mais sólida solidão


22 Havia um resto de uma saudade jurássica
23 Mas não havia mais nenhuma eterna paixão
24 Até que a dor cedeu, sumiu e em seu lugar
25 Veio uma completa exaustão do mundo
26 Um não pensar ante o tanto do exercício
27 Com a dopamina invadindo o cérebro
28 E deixando o corpo em êxtase profundo


29 Não havia mais recursos nos bolsos
30 Não havia mais como pedir ajuda
31 O nada se fazendo em silêncio
32 E no silêncio o tudo era muito longe
33 Um eclipse total num Sol de meio dia
34 Que extraiu as cores vivas da retina
35 E deixou um não pensar de velhos monges


36 Não havia mais realidade interna
37 Não havia mais que um deserto para o olhar
38 Estranhas formas; bizarros e breves vultos
39 Imagens soltas de conteúdo divino
40 Dando sentido ao desalinho do chão
41 Até que uma verdade cristalina
42 Fêz-se luz em minha primal confusão


43 Não havia mais cegueira nos olhos
44 Não havia mais cortinas de pó
45 Só um transcender sujo e contente
46 Íntegro: por me sentir homem e menino
47 Lúcido: para ver o mundo com esperanças
48 Com a sabedoria dos antigos peregrinos
49 E a paz interna de qualquer criança

Um comentário:

Anônimo disse...

De que adianta ver-te, sentir-te perto de mim, se td tem que voltar ao inicio, sua bela face de encantamentos, seus dons de enfeitiçar..Suas palavras tortas ao vento, como melodia doce a cantar, pelas tuas linhas do corpo posso vagar, mais vc me proibe ate de pensarSeu cheiro ainda em mim, há de perturbar, sua boca, fina elegante, querendo me beijar, seu egoismo ALTIVO a me atrapalhar..Que dia em meus braços, novamente ira se deitar??Como um cachorro louco, vive a me negar, que posso eu fazer a não ser me conformar? O tempo ainda há de me compensar...
Roberta Tavares