sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Um Quanta do Purgatório...

Miro 1.11.2005

Estou quase por um triz
No fiel de torta humanidade
Entre o exímio e o incapaz
Feito sábio virando aprendiz
Sem documentos de identidade
Sem certezas além das mudanças
Entre o ontem, o hoje e o amanhã
Em guerra para obter a paz
Correndo pelado e infeliz
No frio de uma nova manhã...

Já não vejo mais diferença
Entre o batom da meretriz
E o martelo de agua raz
De algum corrupto juiz
Há semelhanças sutis
No zap de qualquer TV
Onde um velho galã é capaz
De um beijo técnico na atriz
Como em Brokeback Mountain
O cowboy e seu capataz...

Os selos mil vezes fotografado
Entre o prícipe e a plebeia
Ou no casamento desarranjado
Do craque e noivo pato
E a potranca internacional
Tudo é igual ao beijo dado
Num barato filme pornô
Pois quem não paga para ver
A intimidade de um famoso
Seja cult, trash ou deprê...

Não vejo muita diferença
Entre dedos no terço da beata
E o médio em ferro da sapata
É só uma questão de crença
Será recato ou pecado?
Existe o falso que vira certo
O não que acaba em sim
No festival das vaidades
Fantasia é realidade
No silicone na drag queen...

E se a utopia dos sonhadores
É como um livro proscrito
Em secreto porão guardado
Onde está livre da praticidade
E pode até parecer realidade
Como saudáveis baiconzitos
Ou mentiras que viram leis
No discurso improvisado
De um analafabeto político
Que de tão mau, vira bom, vira rei...

Há um carnaval de notícias
Um frevo de discussões
Um maracatu de sevícias
Que são logo esquecidas
E tudo fica por isto mesmo
Na pizza que vem depois
Só não passar a esmo
Por esta teimosa hipocrisia
De dividir o mundo em dois...

Estou a um quanta do purgatório
Boarder line e também indigente
Entre o esquecido e o notório
Errando corretamente
Colhendo o certo no errado
Sabendo que é não consciente
Qualquer opinião em percalço
Seja negro, mulato ou ariano
Seja rico, probre ou mediano
Seja vero, provável ou falso...

Tudo isto navega em mim
Como líquidos ainda missíveis
Sem princípios, meios ou fins
Chacoalhados em tombos precisos
De meus frágeis pés embotados
Na grama orvalhada do ciso
Entre demônios, homens e querubins
Sob a sombra de astros polares
Na escuridão de velhos metrôs
Sem tempo, sem roupa, sem lares...

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